13 de junho de 2005

Estatísticas

Para ser franco nunca dei ao INE e aos seus indicadores estatísticos a menor credibilidade. E isto independentemente do assunto a que se refiram, desde a inflação ao desemprego e à demografia do país. E isto ainda, também, para além do seu cortejo de académicos, doutorandos, amanuenses e contínuos de leva-protocolo. E dos seus dirigentes, exemplarmente seleccionados entre os independentes e nomeados por cada sucessivo governo, sem a mínima preocupação quanto à respectiva filiação partidária ou à sua inclinação ideológica. À semelhança do que, aliás, tem sido prática também exemplar da democracia em que sobrevivemos e onde apenas são excluídas as mulheres, os sem abrigo, os pobres, os desempregados e os que, pelo aumento dos jornais, não podem ler as crónicas do senhor Eduardo Prado Coelho, professor universitário.

Esta posição tem, obviamente, várias razões de ser. Quando minimamente me mantenho atento às coisas, verifico que a gasolina aumentou trinta por cento, o pão dez, a habitação quinze e o arroz carolino doze. A alquimia estatística do INE, depois de aturados e complexos cálculos, invariavelmente e em consequência, fixa a taxa média de inflação em 2,4 por cento, sem aproximação às centésimas para conforto e descanso do ministro no desemprego Bagão Félix.

Coisa idêntica acontece com a crescente taxa de desemprego, numa tentativa desonesta de nos aproximar da Europa dos doze que conhecemos e em que nos integrámos. Sem nada a ver com os vinte e cinco, alguns geograficamente localizados em casa do coiso mais velho, que ninguém sabe onde fica, e sem o convívio com os que, por grosseira falta de informação, votam não nos referendos sobre uma proposta de tratado a que, pretensiosos, já chamavam constituição. Tanto assim é que em Portugal os profissionais activos, com a característica comum de militarem em partidos políticos, se vêem forçados a acumular cargos, tarefas e funções como acontece com o major Valentim de Loureiro, vereadores das diversas autarquias e até mesmo reformados por incapacidade física absoluta que o governo literalmente obriga a comandar a PSP e a ocupar cargos ministeriais, com as canseiras que decorrem das viagens a Bruxelas e das passagens por Estrasburgo.

Quanto à demografia o INE atribui-nos cerca de dez milhões de habitantes, dos quais seis são benfiquistas do coração, estando em curso uma recontagem solicitada ainda pelo senhor Trapatoni e apoiada pelo senhor José Veiga, que se pensa poder chegar ao dobro. Apesar disso, os campos agrícolas do país, incluindo a lezíria, estão de pousio e a palha que produzem não chega para alimentar os burros de uma só quinta. Parte-se do alto Minho e chega-se à ria Formosa, atravessando todo o Alentejo, e não se consegue divisar um só compadre que seja, justamente descansando à sombra protectora do chaparro. Muitas vezes nem mesmo os chaparros se encontram no devido lugar, certamente por falta de funções.

Apenas me convenci de que poderíamos ser mais no passado dia dez de Junho quando o presidente Sampaio desatou a condecorar uma fila de personalidades mais extensa do que as que se formam nos jardins do palácio da Ajuda para o beija-mão aos primeiros-ministros sempre que estes tomam posse. E prometem fazer-nos felizes, extinguindo impostos obsoletos, descendo o preço dos combustíveis, aumentando o valor já significativo das pensões e substituindo a Associação Nacional de Farmácias por uma grande superfície com o inevitável Dr. Cordeiro à frente. Mas, mesmo assim, uma ou outra dúvida acabou por prevalecer. Se fossemos assim tantos o Dr. Sampaio certamente não teria que condecorar a D. Fátima Campos Ferreira. Teria certamente mais por onde escolher.

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