Estado social ao domingo de manhã
Em
calendário de primavera serôdia, um domingo chuvoso e frio que torna a cidade
deserta e as ruas tristes. Um vulto esquivo, um guarda-chuva aberto, uma
rabanada de vento mais forte, mais destroços na valeta para a recolha do lixo.
O passo que se alarga, a corrida breve, a procura de refúgio num portal
qualquer, o abrigo precário, como o emprego. Se o houver, o portal, o emprego e o tal estado social.
A
força anímica que falta, e que acabou a fazer dobrar os joelhos ao ministro das
equivalências, a prioridade dada ao emprego para que o desemprego cresça, o
futuro do país preso por 15 euros de aumento no salário mínimo, que os
empresários condicionam e o governo patrioteiro, decididamente, rejeita. O
emprego em português que o país já não oferece a ninguém, nem a licenciados num
domingo destes, com equivalências daquelas e filosofias de Paris, a bordo de um "bateau mouche", em pleno Sena, a imponência da Torre Eiffel por fundo.
Procuram-se
e recomendam-se “financial advisers”, ninguém sabe se existem consultores
financeiros e para que servem, nenhuma universidade tem cursos que os formem,
sete dias por semana, em regime de equivalências e pagamento de propinas em
prestações suaves, com juros à dimensão da voracidade da troika. Oferecem-se
oportunidades a pessoas qualificadas para “assets management” mas não há
emprego nem ocupação, seja de que natureza for, para gestores de activos ou de
carteiras, especialidade de que os centros de emprego transbordam, em
concorrência com trolhas e carpinteiros de toscos, perante o marasmo da
construção civil e a paralisação dos trabalhos no túnel do Marão.
Realmente
um estado social, de que toda a gente fala e que ninguém define, tem que
preocupar-se com ocupações básicas, em que as qualificações são baixas e os
conhecimentos iguais a zero. É aí que o governo evidencia a sua sensibilidade
social e o reciclado ministro Relvas perdia o sono e sofria patrioticamente as
noites. E tal é a preocupação do governo que este, para que lhe não falte
matéria prima, tenciona começar por despedir na função pública quem tiver mais
baixas habilitações para, de seguida, lhes dar formação profissional adequada e
os empregar de novo. Como “financial advsiers” ou “assets managers”!
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial