Futebois
Começo
por uma declaração de interesses: sou desde miúdo adepto do Clube Desportivo
Ferrovia, de Nova Lisboa, Huambo, Angola, que ou não existe ou terá mudado de
nome. Mantenho também um certo fraquinho pelo Clube Recreativo da Caála, por
onde passaram amigos meus dos quais apenas vou referir dois, prematuramente
desaparecidos: o Jota Jota e o Emílio Peyroteo.
Para
dizer no fim que este futebol que para aí movimenta milhões, por detrás de
clubes e empresas falidas, não produz riqueza nenhuma e que não consigo vê-lo
como indústria, como diz o presidente do Benfica, como se jogar à bola fosse
uma coisa muito parecida com o fabrico de pneus ou de salsichas.
Apesar
da irrelevância, os políticos de profissão, como Passos, Relvas, Seguro, etc e
coisa e tal, dão não sei o quê mais oito tostões para se mostrarem nos
camarotes e aparecerem nas cameras de televisão, à caça do voto do espremido
eleitor. Como, pela mesma razão, vão à missa e o eterno Mário Soares ia pedir a bênção ao cardeal patriarca.
A
melhor forma dos profissionais da bola falarem para os três diários desportivos
que hão-de livrar o país da crise e o Gaspar das profundas dos infernos, é de
boca fechada, de preferência com um adesivo forte colado. Porque se a equipa
ganha o adversário foi valente, bateu-se com galhardia mas a vitória não
oferece contestação e é mais do que justa. A equipa de arbitragem fez um
trabalho exemplar, deixando jogar e julgando com isenção e sensatez. Nem seria
de esperar outra coisa do árbitro em questão e do justificado prestígio que
tem.
Se
a equipa perde houve que defrontar um onze de serrafeiros e simuladores,
atirando-se para o chão, procurando a falta, perdendo tempo. Perdeu-se à custa
desses artifícios e da desonestidade do árbitro porque os golos do adversário
foram obtidos em fora de jogo, ficaram por assinalar três penalidades a favor e
ao intervalo já meia equipa adversária deveria ter visto o cartão vermelho e
ido para a rua.
Vem
tudo isto a propósito do treinador do Futebol Clube do Porto, que até parece
ter alguma instrução, ter feito declarações a que faltam sensatez e bom senso
mas a que sobram grosseria e estupidez natural. Com o Benfica praticamente
campeão vem o serôdio vidente dizer que o campeonato foi sujinho, referindo-se
a um jogo que o Sporting perdeu em casa do Benfica onde parece ter sido
prejudicado pela arbitragem, sem nenhuma garantia de que o facto pudesse
inverter o resultado. E esquece-se o morcão que no mesmo estádio esteve duas
vezes a ganhar para consentir o empate no minuto seguinte. Então admite-se uma
coisa dessas numa ciência que o treinador do Benfica inventou? Marcar um golo e
sofrer outro na jogada a seguir? E não multou ou despediu meio plantel?
Além
disso já se esqueceu o esclarecido estratega que entregou o campeonato no seu
estádio, no jogo contra o simpático Olhanense, que continua a lutar para se não
afogar nas águas tranquilas da Ria Formosa, tendo ontem mesmo despedido outro
treinador, procurando a rainha Santa Isabel para treinadora e para o milagre da
multiplicação dos pontos...
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