O Conselho de Estado
O
Sr. Silva, com morada permanente em Belém e de verão numa casita rural e
modesta, herdada da família, na aldeia da Coelha, reuniu ontem ao fim da tarde
o Conselho de Estado. É estranho que o tenha feito, ele, de que o país bem
conhece a infalibilidade papal: nunca se engana e raramente tem dúvidas. Por
mim não sei as funções e desconheço de todo a utilidade daquele órgão composto
por membros não eleitos, que lhe pertencem em consequência dos cargos que
desempenharam ou que desempenham. Fica-me apenas a certeza de ser profundamente
machista, composto por 20 membros dos quais apenas um é do sexo feminino. E,
tanto quanto sei, mesmo esse elemento é permanentemente incapaz para o trabalho
e, como tal, se encontra aposentado depois de uma longa e árdua carreira
profissional, terminada aos 42 anos de idade. Seguramente com grande pesar seu
porque muito gostaria de continuar a ser útil à coletividade, trabalhando.
Hoje
fui ao site oficial do Sr. Silva à procura das importantes conclusões paridas
por tão distinta assembleia. Em termos de informação ninguém dissera nada e
apenas se vira sair o Dr Soares mais cedo, por ter em casa a sopa do jantar a
arrefecer e os comprimidos para a insónia à espera. A única coisa que disse foi
que não dizia nada, mas recorda-se ainda a sua forte motivação, enquanto
governante a que a história não fará grandes referências, quando não prescindia
da sua sesta diária, nem no hemiciclo de São Bento. E deparei com um comunicado
oficial, de cinco pontos, em que se discute o sexo dos anjos e a independência
do Brasil, depois de Cabral ali ter aportado por engano e aproveitado para uns
dias de praia.
Importa
salientar desde logo a ordem de trabalhos: “Perspetivas da Economia Portuguesa no Pós-Troika, no quadro
de uma União Económica e Monetária efetiva e aprofundada”. Por ela ficamos a saber que Portugal tem uma economia,
mesmo para além do Álvaro, e que haverá uma época pós-Troika, mesmo que se
duvide de ambas. E que, para a economia, o conselho meditou e refletiu, com o
somatório da sabedoria de todos os seus membros, sobre as respetivas
perspetivas no quadro de uma União Europeia e Monetária que todos eles pensam
que continuará a existir, mesmo depois do dilúvio. E a existir de uma forma
efetiva – não deve ser de faz de conta! – e aprofundada – se calhar nas
profundas dos infernos!
Mais, o conselho entende que essa tal união deve criar
condições para combater, com êxito, o flagelo do desemprego e reconquistar a
confiança dos cidadãos, considerando sempre o “adequado
equilíbrio entre disciplina financeira, solidariedade e estímulo à atividade económica”. Nem mais! De onde
se pode concluir que o conselho em geral e o Sr. Silva em particular foram
substancialmente prejudicados pela hora a que reuniram. Porque, quando foi invocada
a infalível inspiração da Senhora de Fátima, já esta tinha encerrado o
expediente diário e só reabriria na manhã do dia seguinte. Como é que o Sr
Silva se foi enganar nos horários?
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