Sábado de maio no roseiral, com algumas exceções
Dos
jardins do Palácio de Cristal pode ver-se lá em baixo, no silêncio exausto da
última curva, o rio Douro caminhando para a morte. Perdida a arrogância do
caminho, alguma ali tão pouco a montante, encolhe-se perante a fúria do oceano
que o acolhe e o humilha, invadindo-o
com as águas sujas e mal cheirosas das marés. Serve apenas como fronteira entre
o Porto e Gaia, que deixou de existir e apenas persiste na mente doentia dos
políticos de recreio que se estendem pelas margens.
As
pontes mataram o regime absolutista do rio, sem maiúsculas e de águas
correntes. Vai-se a pé de um lado ao outro, barcos imitando não sei o quê
passeiam-nos sob elas, se a crise que tudo justifica e tudo permite, tiver
ainda deixado o suficiente para o bilhete e a prova de vinhos numa das caves.
Os pescadores persistem em espalhar-se pelas bordas, o isco no anzol, a
esperança na espera, o saco seco aberto à espera do primeiro troféu.
Vê-se
o mar, com uma imensidão que nos leva ao infinito e ao Brasil que fica para
além dele. O horizonte que se perde, o voo elegante das gaivotas, mesmo na
intranquilidade dos dias de tempestade e das vagas de sete metros. Mas por
detrás de nós e da elegância da casa e da pérgola do roseiral, ficam maio, as
tardes ensolaradas de sábado, com um ventinho frio e penetrante a
atravessar-nos os pulmões, e o próprio roseiral.
E
quase parece não haver roseiras, muito menos espinhos. Há quase só cor, tudo rosas variadas, muitas abertas, muitas
em botão, poucas desfolhando-se na despedida. Algumas exceções pelo meio, um
pavão intruso, desdenhando do colorido das rosas e gritando a sua presença.
Alguns nenúfares brancos, outros cor de rosa, emergindo das águas e do meio das
folhas largas. E outras espécies a que apenas os biólogos sabem dar nome.
Em
maio, nos jardins do Palácio de Cristal, o roseiral vale a pena!
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