O país de pernas para o ar
Parece
que o senhor Miguel de Sousa Tavares, conhecido adepto do Futebol Clube do
Porto e proprietário de um monte alentejano, escreveu mais um livro, na sua
persistente luta contra o analfabetismo e como desinteressado contributo para o
novo acordo ortográfico, que se faz velho sem que entre em vigor e sem que o
senhor Vasco Graça Moura o celebre em eruditos versos alexandrinos.
Escrever
um livro é um acto heróico como fazer um filho e plantar um chaparro. Como se
sabe são os três actos que realizam um homem e o fazem entrar no restrito
número de cidadãos a quem a troica e o senhor ministro das finanças reservam
alguma consideração, desde que não peçam crédito para uns dias de férias nas
Caraíbas.
Vai
daí, e como é previsível e justo, foi o senhor Tavares convidado para
entrevistas, declarações avulsas – incluindo a do IRS -, idas à televisão,
motivo central das crónicas dos gatos fedorentos e, talvez, inspiração para um
dos próximos sucessos musicais do senhor Quim Barreiros. E numa dessas
entrevistas alguém, menos avisado ou mais bronco, lhe terá falado – presumo! –
no senhor Beppe Grillo. Um respeitável e assumido palhaço italiano que
recentemente, com a maior facilidade e como era de prever, bateu nas urnas os
respeitáveis políticos transalpinos, incluindo o do bunga-bunga, apenas por ser
mais sério do que eles.
Tal
foi suficiente para que o conhecido adepto do Futebol Clube do Porto, que não
costuma mandar recado por nenhum comentador político, incluindo o filósofo que
estagia na televisão pública, dissesse directamente que nós já tínhamos um
palhaço e que esse era o senhor Silva, cujo cargo actual parece ser presidente
da república, não se sabe porquê nem para quê. E não é que o senhor Silva levou
a mal, que a Procuradoria Geral da República abriu um inquérito e que a
população de Boliqueime está em estado de choque, tendo mesmo encerrado a
escola básica e o centro de saúde?
Mas
um mal nunca vem só e, pior do que isso, é que o senhor Beppe Grillo, em defesa
da honra, por se sentir ofendido, intenta uma acção criminal contra o senhor
Tavares, por difamação. E a respeitável ordem dos palhaços portugueses lhe
segue as passadas, exige uma declaração pública de desagravo e mantém a decisão
de também agir judicialmente contra o proprietário alentejano, por se sentir
grosseiramente injuriada na referência feita.
É
o país do avesso, com a troica a persistir no esforço de o endireitar, a taxas
de juro de agiota. Para desgosto e inveja do grupo nacional de banqueiros, que
não aguenta tal afronta...
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