Mulheres de preto descendo pelas chaminés
Antigamente, nas remotas
aldeias de província e nas noites que davam para domingo, as mulheres vestidas
de preto como se fossem viúvas do tempo, desciam pela fuligem das chaminés
quando o solstício do inverno batia às portas do calendário. E traziam consigo
cavacas secas para alimentar as chamas tranquilas da fogueira e um ramo de
azevinho carregado de bolinhas vermelhas, que encurtasse as longas viagens dos
sonos frios do hemisfério norte.
Hoje não há fumos que subam
pelas chaminés e se misturem com as nuvens brancas que enchem as manhãs frias e
luminosas dos dias claros e secos de dezembro. Como se anunciassem a chegada de
flores garridas colorindo as primaveras e de um novo sucessor de Pedro, ajoujado
ao peso de quantos futuros lhe sobrecarregam a estreita largura dos ombros, a
apoiar-se no báculo, como peregrino que percorresse os caminhos de Santiago. E
que de lá voltasse convicto de que trazia consigo, como o sol para todos, as certezas
do porvir que nos falta.
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