Todas as mulheres com que me cruzei
Todas as mulheres com que me
cruzei na vida traziam uma tristeza líquida e azul no fundo dos olhos,
pendia-lhes dos cantos da boca um verniz carmim que seguravam nas pontas dos
dedos e usavam saltos altos com que se equilibravam no piso escorregadio das
calçadas à chuva. Abraçavam o vento que acolhiam no universo do regaço, os
cabelos soltos em desalinho como se fossem os de James Dean sulcando a estrada
em cima de uma Harley-Davidson de grande potência, toda a pressa de chegar ao
oceano Pacífico e sentir o sal morno das águas nas solas dos pés e debaixo da
língua.
Os joelhos magros a
caírem-lhe das saias curtas, prometendo a forma generosa das ancas para lá do
tecido, os seios erectos segurando-lhes a elegância da silhueta e a altivez
serena e sóbria do porte, como se o sol caísse a pino sem deixar sombra
nenhuma, fosse ainda meio-dia e o brilho continuasse como se fosse verão além
do círculo polar árctico, se é assim que a geografia o ensina e a latitude o
comporta. O sonho arfando-lhes no peito ao ritmo da frequência cardíaca, como um
terço que trouxessem pendurado ao pescoço, nenhum mistério lhes dissimulasse o
desejo e as revelasse completas e inteiras, como se não houvesse rosário nenhum.
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