Desenhar-te o nome como se fosse uma flor
Desenhar-te o nome
lentamente, como se fosse uma flor que se abrisse à madrugada, letra a letra,
traço a traço, a mão firme, o risco suave e doce como um fio de mel correndo-te
dos lábios. Prolongar cada letra e acentuar-lhe cada pormenor, como se fosse um
sussurro permanente que se me alongasse para além da voz e se reflectisse no
brilho gaiato do olhar com que sorris aos raios de luz que parecem chegar dos
restos perdidos do paraíso. Uma praia do oceano índico, o nome escrito assim
mesmo, sem maiúsculas que dessem qualquer dimensão às ondas que se nos entregam
sob os pés nus, marcando o perfil na areia molhada, um friso de palmeiras
virado a oriente. O oriente da China e de Pessoa, onde nasce o sol, vermelha e
branca, as cores da vida de Drummond de Andrade.
Aspirar-te o perfume, suave
e fresco, que me enchesse os pulmões e me chegasse ao coração, como se fosse o
oxigénio vital e rarefeito dos cumes dos Himalaias, e ali me ficasse para
sempre, como se a vida fossem apenas rectas paralelas que se encontram para lá
do infinito que não somos. Desfolhar-te pétala a pétala, como se todas fossem
muitas, todos os sentidos na ponta dos meus dedos, que amor não me engana com a sua brandura. Eu
sei Zeca, eu sei que é tua a frase e o sentimento com que a sinto a entrar-me
nos ouvidos, a pele a arrepiar-se-me quando as cordas tensas de uma viola
tingem de ternura a tarde de domingo. E é por isso que o digo!
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial