11 de fevereiro de 2016

É mais belo aquilo que também é mais simples.

É mais belo aquilo que também é mais simples. Os minúsculos pontos alinhados, aconchegando-se uns aos outros, desenhando uma linha recta, sem começo e sem fim, passando singelamente por todos os lugares, pertencendo-nos a todos como coisa comum, em todos os momentos e de todos os modos que lhe pertencermos. A ousadia de um bocado que lhe roubamos e que guardamos como sendo nossa, um segmento como característica de identidade geométrica, pendendo-nos da algibeira, a ponta de um lenço branco mostrando-se, cada um de nós o eterno menino de sua mãe, sem Pessoa que nos escreva ou Villaret que nos diga, a poesia agreste de Torga tombando dos penhascos transmontanos pelas encostas graníticas do Douro, São Martinho de Anta, uma morada, uma casa de família, uma memória para sempre. Largo da Portagem, um consultório, uma bata branca, um estetoscópio pendurado ao pescoço, uma mezinha para o catarro.


Coisas simples, uma antiga casa de pedra numa aldeia do interior a que se chega por carreiros, - eu, com Drave ainda por descobrir! -  uma lareira, uma mão cheia de caruma, algumas cavacas de pinho seco, para a fogueira, uma panela de três pés para a sopa, um banco para o repouso, a escola e a igreja no pequeno largo, a terra para o sustento, a missa de domingo. Um sorriso envergonhado no teu rosto, dois olhos brilhantes, inquietos e curiosos, imaginando que caminhos deixam o tempo para trás e conduzem ao altar, mulher e mãe, um colo abençoado, o mundo inteiro no teu regaço. O sono solto, sonhos breves e suaves, histórias de princesas, sapatinhos de cristal, a cama por fazer, o caldo para preparar, a roupa que não seca. A chuva certa e persistente de uma manhã de inverno, sem vento, a primavera a adivinhar-se para lá do pinhal onde se abriga a casa, dois pardais saltitando na eira, a sinfonia do namoro, o ninho que se há-de construir, uma migalha que é um banquete, um campo de papoilas singelas enchendo a paisagem. Explodindo de vermelho!

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