Contigo poderia ter aprendido
Contigo poderia ter
aprendido a reconhecer, sob a ternura tranquila dos lençóis, as manhãs de
domingo e as nuvens brancas enfeitando o sol dos dias de primavera. Poderia ter
aprendido os muitos e longos mistérios do silêncio, à cadência ritmada da respiração
exacta soltando-se-me dos lábios. A roupa pendurada no estendal da varanda, a
libertar aquele cheiro fresco a infância que trazem nos olhos fundos as
crianças de áfrica. Poderia dizer mulemba e isso ser pássaro e ninho e vida,
sentir na mão a forma esférica e dura do maboque e na boca o sabor agridoce que
lhe serpenteia pelos ramos, um bando de flamingos passeando a cor das penas
pelas águas rasas da enseada.
Contigo poderia ter
aprendido como o olhar se prende à distância e à esperança que desenha a curva
do horizonte, sentar-me num banco público virado a ocidente e esperar que o sol
explodisse ao fim da tarde, longe de barcos e de árvores. Por a insegurança da
minha mão direita sobre a certeza nua dos teus joelhos, uma sede de verão a que
não resta nenhum sinal de brisa, um gin tónico no copo, sabendo a frio e a
limão. E dizer amor como se não houvesse nem noite nem inverno, o por do sol se
espalhasse pela praia e se reflectisse no espelho plano que é o brilho
permanente dos teus olhos, as estrelas como pontos encantados adivinhando-se no
firmamento.
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial