Uma pequena gota de orvalho
Uma pequena gota de orvalho
escorrendo pelo gume da manhã, uma lágrima delicada tingindo-te de fresco a
face de ternura, sublimando-se no nó cego que é esta paisagem em brasa, ventre
todo feito de urze e de granito, por onde cresce o rio à procura da nascente.
Apenas um irrequieto fio de água brotando-te dos pés, deixando a memória presa
ao musgo que cobre as pedras onde fica reflectida a primeira imagem, um suspiro
sensual pendurado nos raios de sol que vêm de oriente e que te trazem o ar puro
que respiras e o cheiro magnífico das flores de cerejeira com que enfeitas o
sorriso.
Os sonhos são como
medronheiros crescendo nos penhascos, cobrindo toda a encosta íngreme que cai
para o desfiladeiro, corando de vermelho e de maduro os frutos, ao sol de
setembro, a doçura do mosto correndo nas bicas dos lagares, o engaço espremido
a caminho dos alambiques, a parra ensaiando forrar a ouro o desenho geométrico
dos socalcos. As palavras rudes de Torga projectadas no horizonte, os carreiros
estreitos por entre fragas e vinhedos, levando ao promontório onde se situam a
capela e o posto de comando, pontos e contos da montanha onde nasce o paraíso.
1 Comentários:
Lindas palavras
um visitante
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