Pensar o amor como um planeta líquido
Pensar o amor como um planeta
líquido, de águas quentes, que me brota do coração, pelas aurículas, batendo à
cadência de um compasso musical, só oxigénio e vida, fazendo de mim o centro de
tudo, com tudo sendo muito mais do que isso e ainda mais. Uma sensação redonda,
concêntrica, esférica, que se expande em todas as direcções, sem direcção
nenhuma, sem nenhuma forma e de forma explosiva, como a que algum dia terá
criado o universo, se é que ele foi mesmo criado ou se pelo menos há ideia da sua
existência. E que vai muito para além do que a crença que nos leva ao conceito
de Deus, omnipresente e omnisciente e ao que até não couber na fé, e a ser
peregrinos sem destino e sem caminho e sem fim, no mundo pequenino que guardas
na palma frágil da tua mão fechada.
Amor é fechar os olhos como
se os tivesse abertos, e repetir a palavra vezes sem conta, até que não seja
mais do que um som sem sentido nenhum e, ao mesmo tempo a soma de todos os
sentidos, todos os sítios, todas as épocas, tudo aquilo que fica para além das
fronteiras que conhecemos, das cores que sabemos, do que não conseguimos sentir,
e que sentimos. Todas as cores e todas as sensações, a começar pelas que
simplesmente ignoramos, todos os estados físicos, sólido, líquido, gasoso, a
passar constantemente de um para o outro, sendo todos esses e mais aqueles que
ocupam os estudos de todas as ciências, exactas e não exactas, e a sublimação.
Amor é a tua silhueta num
parágrafo, sem frases e sem linhas, todo o teu corpo só de promessas, no
tamanho exacto de um período, uma infinidade de ideias e um universo de ternura,
na simplicidade de uma só palavra que precisa de todo o espaço do horizonte
para ser escrita, e que aí não cabe. Como se o sol derretesse todo o gelo de
que são feitas as constelações e as estrelas do cruzeiro do sul, e ainda as que
não são de constelação nenhuma. O sul inteiro, longínquo, distante e próximo, vermelho
e branco, de norte a oriente, a estender-se para além de tudo, sem linhas e sem
rotas, palpitando no calor morno do teu peito, os lábios submersos na cor macia
da ansiedade com que esperas por um beijo.
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