4 de março de 2016

Pensar o amor como um planeta líquido

Pensar o amor como um planeta líquido, de águas quentes, que me brota do coração, pelas aurículas, batendo à cadência de um compasso musical, só oxigénio e vida, fazendo de mim o centro de tudo, com tudo sendo muito mais do que isso e ainda mais. Uma sensação redonda, concêntrica, esférica, que se expande em todas as direcções, sem direcção nenhuma, sem nenhuma forma e de forma explosiva, como a que algum dia terá criado o universo, se é que ele foi mesmo criado ou se pelo menos há ideia da sua existência. E que vai muito para além do que a crença que nos leva ao conceito de Deus, omnipresente e omnisciente e ao que até não couber na fé, e a ser peregrinos sem destino e sem caminho e sem fim, no mundo pequenino que guardas na palma frágil da tua mão fechada.

Amor é fechar os olhos como se os tivesse abertos, e repetir a palavra vezes sem conta, até que não seja mais do que um som sem sentido nenhum e, ao mesmo tempo a soma de todos os sentidos, todos os sítios, todas as épocas, tudo aquilo que fica para além das fronteiras que conhecemos, das cores que sabemos, do que não conseguimos sentir, e que sentimos. Todas as cores e todas as sensações, a começar pelas que simplesmente ignoramos, todos os estados físicos, sólido, líquido, gasoso, a passar constantemente de um para o outro, sendo todos esses e mais aqueles que ocupam os estudos de todas as ciências, exactas e não exactas, e a sublimação.

Amor é a tua silhueta num parágrafo, sem frases e sem linhas, todo o teu corpo só de promessas, no tamanho exacto de um período, uma infinidade de ideias e um universo de ternura, na simplicidade de uma só palavra que precisa de todo o espaço do horizonte para ser escrita, e que aí não cabe. Como se o sol derretesse todo o gelo de que são feitas as constelações e as estrelas do cruzeiro do sul, e ainda as que não são de constelação nenhuma. O sul inteiro, longínquo, distante e próximo, vermelho e branco, de norte a oriente, a estender-se para além de tudo, sem linhas e sem rotas, palpitando no calor morno do teu peito, os lábios submersos na cor macia da ansiedade com que esperas por um beijo.



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