O homem que não sabia caminhos
O homem que não sabia caminhos,
chegou às encruzilhadas da vida e aí se perdeu, virado para nenhum lado. Sem pontos
cardeais e sem pássaros que lhe saíssem do olhar, não foi capaz de descobrir de
onde vinham as andorinhas e que destino davam ao seu voo sem destino. Há sempre
um certo nevoeiro que se acumula nos leitos dos rios e que embacia os vidros
das janelas e as necessidades de futuro. Depois, há sempre um momento em que um
qualquer terramoto chega das profundezas da terra, estilhaça todos os vidros e
leva para ontem todos os dias que eram amanhãs, quando os barcos se prendiam às
mãos robustas dos remadores e nos cais o tempo de espera envelhecia sobre o
musgo.
Sem bolsos nas calças,
enchem-se de frio as palmas das mãos e de chuva forte o vento leste que desce
pelas chaminés, libertando o escuro da fuligem. Quando se não conhece nenhum
caminho, não há nem rota nem maré que levem ao cabo da boa esperança, além do
qual se encontrem a bonança, a rosa-dos-ventos e os reis magos seguindo a luz
da estrela polar. É preciso que haja uma razão para que o sol nasça sempre a
oriente, para que daí sopre o vermelho e branco com que se pinta a vida que
resta para lá da cortina que encobre todo o cinzento dos passos em volta. Sem
horas e sem calendários, sem anos e sem meses, com todos os janeiros riscados
do inverno.
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