Amanheceste com um ar cinzento e triste
Amanheceste com um ar
cinzento e triste. Um véu translúcido a receber-te o ocaso silencioso das
lágrimas pequenas e persistentes. Um vento fraco correndo por entre portões,
agitando-te levemente as vestes e pousando-te a humidade nos cabelos soltos que
herdaste dos dias de sol. As folhas secas caindo suaves, como a chuva da manhã,
fazendo-se tapete sobre o verde da relva que prescinde da rega. E se vai
encharcando do tempo cada vez mais curto, até que o horizonte engula um sol
discreto, encoberto pelos “stratus” que se confundem com o azul distante das
marés.
Não se divisa o voo rápido e
imprevisível das andorinhas e estarão desabitados os ninhos que construíram nos
beirais. Voaram livremente para longe, num voo de vida, longo e necessário,
ultrapassando rios e mares que lhes viram nascer as crias e que a elas se
entregaram como primeira experiência. Sem elas, fica mais cinzento o dia e mais
próxima a chuva que escorrerá pelos meses próximos. Mas há-de o deserto
trazer-nos mais do que as areias indomáveis da tempestade e o frio polar que se
liberta do gelo dos glaciares. Há-de voltar a ser límpido o horizonte, o sol
despontando por entre a neve branca dos “cumulus” baixos e a encher os beirais
com o calor necessário para o regresso.
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