A melancolia fresca de uma tarde de Agosto
A melancolia fresca de uma
tarde de Agosto, a areia nua estendendo-se num deserto macio até onde vêm
morrer as ondas estreitas de noroeste. Um nevoeiro tardio subindo pelo rochedo
e acolhendo o voo ruidoso das gaivotas, vestindo de crepes a capela com uma
cruz altiva erguendo-se-lhe acima da cabeça. Como se a noiva, quase solteirona
triste, esperasse pelo beijo breve dos sobrinhos, o vestido comprido varrendo o
chão e escondendo-lhe a estatura curta, um ramo de flores levado de braçado, a
caminho do altar e do sacramento. Para acabar a ser feliz para sempre, como o
oceano de um azul imenso e largo.
Para além do nevoeiro denso,
a persistência salgada do mar, arredondando as arestas da pedra glaciar. E
ainda o silêncio oculto de mulheres jovens, com saias acima do joelho, os seios
erectos e maternais espreitando pelos decotes generosos das blusas de chita leve.
Encostadas a velhos cascos de barcos abandonados na praia, com as quilhas
perdidas durante a faina, nas vagas do mar alto. Já só servindo para a repouso
de voos prolongados e para dar um eco cavado ao som bruto das tempestades que
chegam de longe. Como se fossem viúvas prematuras de pescadores que lançassem
as redes à procura de peixe e de pão.
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