Pelo sol macio de setembro
Pelo sol macio de setembro
as mulheres descem pelas encostas dos montes, trazendo a fartura das vindimas
no regaço e o mosto doce enchendo-lhes o olhar aberto e extenso. A geometria
poética dos socalcos morrendo, reflectida no rio de águas tardias que se
arrasta pelo leito esculpido entre penhascos, acolhendo a ternura vermelha e
quente do crepúsculo. Nada mais fica para dizer dos fogos que consumiram o
verão e que marcaram de cinzento e fumo toda a paisagem que sobra como herança,
que ninguém reclama, mas que amanhecerá por todos os dias curtos de outono,
entrando pelo frio impenitente do inverno.
Até lá, será apenas a leveza
elegante dos teus passos a dar ao vinho novo o sabor frutado que fermenta nos
pomares, enquanto célere vai correndo o calendário e no fundo dos copos de
prova se vai depositando um resto amargo e turvo. E no brilho fresco das
manhãs, o sol vestirá rio e margens, deixando o vermelho saudoso da parra ir
lentamente caindo por entre as horas das longas noites de lua nova.
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