Que água azul, tanta e mansa
Que água azul, tanta e mansa,
se alarga da transparência inquieta dos teus olhos. Transbordando de verde pelo
junco das margens, onde se vêm acalmar regatos e ribeiras, pequenos pássaros
balouçando-lhes nas pontas, ao sabor da aragem frouxa, que não há. Tudo verde,
um verde persistente, pujante e líquido, à sombra do qual estremece um silêncio
quieto e fresco, como uma manhã urbana no centro das cidades. As manhãs acesas
das cidades, todas pintadas de azulejos nos passeios públicos e nas estações
onde descansam os passageiros exaustos dos bancos da madrugada.
E pelas ruas correndo um
vento quente, desfolhando papéis soltos nos tampos das secretárias, onde os
funcionários públicos contam os minutos e preparam o expediente para despacho. Cada
linha como um dia que passa, um verso de um poema lírico, desenhado com o rigor
caligráfico de uma exuberante letra francesa, como se fosse um cartaz que
anunciasse as celebrações da tomada da Bastilha. Um desenho rigoroso, que
resultasse num belo soneto de amor, a voar leve, no bico de uma cegonha branca.
Cada verso com a rima melodiosa e rítmica, a métrica com a exactidão
decassilábica e tónica da perfeição dos sonetos de Camões!
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