Não é por acaso que existe um espaço entre dois braços…
[Título: de um poema de Alice
Queiroz, com uma vénia.]
Não, não é por acaso que
existe um espaço entre dois braços. Não, não é por acaso que os olhos verdes
dos gatos se aconchegam ao conforto morno dos regaços. Não, não é por acaso que
o tempo e a vida se fazem e desfazem em tantos passos e cansaços. Não, não é
por acaso que as curvas da estrada e do destino nos obrigam a frequentes paragens
e compassos. Não é ainda por acaso que uma palavra solta, um suspiro ou um
olhar mais longo nos causam embaraços.
Não é por acaso que tantos
momentos passam tão depressa que não dão tempo para que no desenho se risquem todos
os traços. Os traços rigorosos e perfeitos de um desenho de Cruzeiro Seixas, o vigor
artístico dos braços e o rigor milimétrico dos espaços. Não, não é por acaso.
Não, não é por acaso que a madrugada nos pode tirar o sono e fazer-nos os
sonhos e a lua cheia em pedaços. Não é por acaso que muitas vezes nos apertam
garrotes à garganta e os sentimos com a leveza meiga que aperta os laços.
Porque fica sempre a imensa longitude do espaço entre dois braços. Para acolher
todo o infinito que somos de ternura e dar o aperto necessário a todos os
abraços.
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