25 de setembro de 2016

Poema para um domingo qualquer

A vida é isto, como um sótão, esconso e insalubre, escuro e húmido. Um lugarzinho a que se chega com esforço, à força de braço, uma escada de que se cai sem defesa, porque não tem corrimão nem degraus para descer. Um cão velho abandonado, arrastando os quadris pela berma hostil dos passeios da cidade, uma memória antiga do osso descarnado e seco, fugindo debaixo da mesa, até à distância de um canto. A indiferença sobranceira das manhãs de domingo, a caminho das missas que se cantam nas naves altas das igrejas. O repicar dos sinos, a solenidade hipócrita da hóstia, os paramentos dos dias de procissão, o recolhimento de cabeça baixa, a contrição da mão pousada sobre o peito, sentindo bater o coração ao ritmo preciso e certo de um relógio suíço.



A vida é isto, a morte com fome e sem culpa das crianças de África, a guerra que se faz em nome da liberdade, enquanto se leva às bolsas de valores o petróleo apetecível e fácil do Iraque!

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