Um cheiro morno a sol e a montanha
Um cheiro morno a sol e a
montanha, e a frescura do teu sorriso, quando sonhas. Uma luz ainda
pouca, atravessando as frestas da madrugada, o teu sono doce como mel,
emergindo da colmeia, todo o enxame posto em repouso. A tua voz macia a
escorrer-me por entre os dedos, o fresco da manhã de outono encharcando o piso
húmido do terraço e um sussurro leve soando-me como uma canção que me
espreguiça o corpo. Como me parece distante o dia e próximo o teu corpo
inteiro, desabrochando na brancura enrugada dos lençóis.
Cada ruga, um verso por
escrever, todo o poema explodindo na epiderme como uma alergia de primavera,
procurando o verão no fundo dos poros. Um grito com sabor a amendoeiras em
flor, o vestido de noiva arrastando pelo chão, a caminho do cais deserto onde o
silêncio é de metais. E a música chega longínqua e suave como a aurora.
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