11 de novembro de 2004

11 de Novembro

Angola manteve uma guerra de 1961 a 1974 lutando pelo reconhecimento do direito à independência. Depois, em 11 de Novembro de 1975, proclamou a independência com as autoridades portuguesas ausentes. Embarcadas, ao largo, acertando o sextante ao rumo de Lisboa. Seguiu-se a guerra fratricida de que todos ainda estamos recordados, embora desconhecendo-lhe os contornos. Esta apenas terminou com a eliminação física da cabeça de um dos contendores. Hoje, atolada na maior das misérias, enquanto casa com fausto filhas do camarada presidente, Angola cumpre 29 anos de independência.

Tenho por África o mesmo sortilégio que tinha Albert Camus, nascido na Argélia, festejado em França, celebrado no mundo pelo sincero espírito de independência que conseguia transmitir. Devo-lhe das mais belas páginas que li na vida e fiz dele o mito que me acompanhou por anos e anos. De memória recordo uma tão curta frase sua que apenas salientava que ao menos em África o mar e o sol são de graça. O que é verdade. Mas, para avaliá-lo, é preciso conhecer África ou, como se dizia em Angola, é preciso ter bebido água do Bengo.

A Europa e Portugal não conhecem África. E não a conhecendo não a compreendem. Nunca se importaram em conhecê-la e continuam a não se importar. Importa que tenha recursos naturais. Que tenha diamantes, ferro, petróleo. Que ali se possam produzir o café, o sisal, o milho. Que o girabola possa, de tempos a tempos, alinhar um José Águas, um Carlos Duarte, um Mário Torres, um Yaúca. E incutir nos seus dirigentes o desiderato de um sistema democrático, com eleitos e instituições.

Mas o grande problema de África, e nomeadamente de Angola, nunca chegou a ser político, nunca tão pouco se alcandorou ao patamar do racial. Manteve-se como tribal, sem carga pejorativa e com o respeito que se lhe deve. Porque são múltiplas sociedades, múltiplas regiões, culturas plurais e variadas línguas. Não se entende esta realidade a partir do Terreiro do Paço, tão pouco da Gomes Teixeira. Nem sequer da Ponta Vermelha ou do Futungo de Belas.

Que Angola, o seu povo e todas as suas tribos, de Cabinda - enclave geograficamente separado do resto do território - ao Cunene, possam ter no futuro a esperança que o passado lhes não trouxe. Que lhes garanta o direito sagrado à vida, à paz e ao alimento.

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