Sem hemoptise nem tango argentino
Vi um sorriso breve a
pintar-te a face e a emoldurar-te o olhar, e sobreveio-me a vontade espontânea
de te acariciar os cabelos desalinhados e de te chegar ao coração, à descoberta
de que ternuras lá poderias ter guardadas para os dias em que o verde da
esperança se confunde com o amarelo das acácias e nos chega da curva onde se
perde o horizonte e fevereiro vai morrendo no calendário.
Dar-te a mão, sentir o
carinho na ponta dos teus dedos finos, um calor morno a saltar-nos dos olhos,
um solo de saxofone a descer-nos pelas pernas, os sobreiros correndo à
desfilada nas bermas da estrada, as coordenadas de um mar chão como destino. Um
por do sol, incomparável e único, a desenhar-se na fímbria do mar, enfeitando a
paisagem marítima e azul, sem ondas e sem barcos, só bancos plantados na praia
de areias finas.
Mas sempre se sentiu uma
brisa fria mais que fresca a limitar a distância até onde se estendia o meu
olhar baço e a força do teu desejo mais inseguro do que certo. Trazendo as
nuvens para mais perto, carregando-as de cinzento e chuva, as palavras sem
sentido, o pensamento sem morada certa ou número de polícia. A brisa virou
borrasca, a chuva tombou feita granizo, o por do sol afogou-se nas águas
revoltas que se embrulhavam no limite do que eu não via. O verde fez-se folha
caída do outono de frio e vento, a esperança morreu, vestida da lama viscosa de
que se engalanou! Ao contrário do poema de Manuel Bandeira, nem se tocou nenhum
tango argentino, não houve nem hemoptise!
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