Circunavegação
Acordo a meio da noite,
quando é mais escuro o sono e distante a cintilação das estrelas. Estão calmas
as águas e tranquilo o desconhecido rumo que levamos, toda a nau rangendo ao
ritmo a que lhe balança o gume da quilha. Com promessas convictas de terra a
estibordo, como se dali se ouvisse o voo colorido dos pássaros e se adivinhasse
o prenúncio da madrugada, como um resto de restolho sobre as areias das praias
e os silêncios da história.
A circunavegação perfeita, à
volta da geografia inteira do teu corpo, como península sem istmo. Com uma
escala que transforme em água fresca o sal ardente e grosso que te cristaliza
no céu-da-boca. E que seja descanso o fogo que se ateia no cume erecto dos teus
seios, a queimar-me as pontas espigadas dos cabelos e o horizonte marinho e
próximo da paisagem.
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