Os caracóis dos teus cabelos
O vento agita os caracóis
dos teus cabelos, leva-te à boca a essência doce dos segredos com que te
vestes. Um olhar vermelho, submerso no cimento azul dos passeios, passo a passo.
O tempo a arrefecer pelo sol abaixo, as camélias em botão, prontas a explodir,
quando o frio da neve encher o teu regaço. Mais tarde vou ler-te um poema que
te cerre as pálpebras e te dê aos lábios a cor suave de todos os beijos que me
recusas. Estou tão longe do mar que tenho medo de perder-te assim, sozinho, no
meio dos rochedos, enquanto viajas para as planícies desertas e secas da
Andaluzia.
Cada verso há-de trazer-te
ao rosto o sorriso íntimo das tertúlias, pão e vinho sobre as mesas longas, os
bancos corridos. Um rio de um verde obsceno, nascendo do enorme quadro pendurado
na parede ao fundo da sala, como se fosse uma montanha. Uma luz nocturna
soltando-se da acústica pobre de uma guitarra, um solo sem público e sem
aplausos, só flores amarelas pela primavera. O enxame inteiro e atarefado,
recolhendo o pólen para o mel que trazes na ponta da língua, como o gume afiado
de uma faca.
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