Pergunto-te
Pergunto-te, sendo a criança
pequena que a vida me impôs que eu ficasse: gostas de mim? E chega-me a
resposta, quase silêncio, com a tua voz macia de seda natural e o perfume
acolhedor dos braços abertos, separados pela distância a que fica a respiração
entre dois corpos. Os pés descalços sobre um chão que voa e que nos revela os
segredos com que os poetas tecem os poemas de amor, bordados ponto a ponto.
Como se cada um fosse apenas o calcário esculpido de dois túmulos na nave do
mosteiro. E Pedro e Inês repousassem, olhando-se de frente, a igreja vazia de
gente para a missa de domingo.
Não sobrasse existência nem
memória de nenhum palácio ou de nenhuma quinta, nem de caminhos que lá
levassem. Apenas um regato correndo à sombra, sobre pedras soltas, num qualquer
ponto remoto da geografia física das palavras, onde se reflecte o firmamento.
Sem tempo nem relógios, todas as horas expostas ao sol, com os troncos exóticos
dos bambus rompendo por entre as copas centenárias dos pinheiros. O mar ainda
distante, esperando por caravelas e viagens, para as descobertas. O leme pronto
nos cabelos soltos da bela Inês. Gostas de mim?
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