18 de outubro de 2011

Centenário


Estás infelizmente ausente, há mais de quatro anos, com o frio macilento da tua testa enrugada colado à minha mão trémula e ao meu espírito estupefacto. Não fosse isso, te garanto que hoje estarias feliz, no teu sorriso franco e aberto, na simplicidade que a vida te ensinou desde sempre. Rodeada por quantos conhecias, que eram todos, e te elogiavam a conduta de uma vida sofrida de trabalhos, de canseiras, se sacrifícios e de privações.

Nem eu sei, nem tão pouco imagino a dimensão desses trabalhos, cedo iniciados e só parcialmente saiba de algumas canseiras, de alguns sacrifícios e de algumas privações. Tenho a consciência de que tentei garantir-te a dignidade a que a gente comum regra geral não tem direito. E sei também que, quando partiste após dois anos de sofrimentos que não sei avaliar, me não senti realizado com o esforço despendido, porque teria sido sempre possível fazer melhor do que fizemos e conseguir mais do que conseguimos.

Doi-me que nessa fase final a vida, mais uma vez,me tenha traído.E tenha contribuído para que alguns significativos momentos fossem subtraídos ao teu convívio, mesmo que este já não tivesse para ti grande conteúdo. Mas, como dizias com a sabedoria simples que o povo te ensinou, elas cá se fazem, elas cá se pagam. É neste momento a grande e a única certeza que tenho: que essas perdas serão resgatadas.

De resto, ficam estas linhas simples a assinalar o dia 18 de Outubro de 2011. Exatamente cem anos depois daquele em que nasceste. Num pequeno lugar da freguesia onde repousas e onde me vou deslocando com uma frequência de que me não julguei capaz.E aqui o prometo solenemente: vou continuar!