30 de julho de 2013

A masturbação

Chegou a pensar-se que esta tarde se poderia ir aos touros ao hemiciclo de São Bento. Expetativa frustrada. Os touros, saídos algures da lezíria ribatejana, atravessaram o Tejo e ficaram-se pelas largadas de Vila Franca, nas festas do Colete Encarnado, no início do mês. Nem as chocas chegaram a São Bento e os próprios campinos se quedaram pela lezíria, tisnando a pele trigueira sob este incerto sol de verão.

Afinal a peça, sob o anunciado título de “Moção de confiança”, nem sequer vendeu todos os bilhetes e o galinheiro apresentava largas zonas vazias, não se vendo sequer as claques de apoio e as suas bandeiras exibindo a dimensão, que não o conteúdo, das inscrições. O primeiro acto foi uma masturbação, sem convicção nem entusiasmo, a que se entregou um antigo aprendiz de cantor de ópera, ex-chefe de família não exemplar, desde sempre parasita político do orçamento, sem a mínima ideia do país e, benza-o Deus, sem a mais remota ideia para ele. Pelas reações, não terá havido orgasmos e os aplausos, ainda mesmo que simulados, não foram muito além disso.


O segundo acto acabou sendo um velório, sem velas acesas, sem incenso e sem abade, transbordando de defuntos em putrefação e de discursos vazios a cheirar a podre, anunciando a ressurreição e o paraíso para dois presumíveis anos de legislatura que ainda julgam pela frente. Nem eles próprios acreditaram nos sermões e os poucos aplausos perderam-se na certeza das férias que os portugueses, sistematicamente invocados abusivamente e em vão, não poderão gozar para recuperar energias e pensar um futuro menos negro.


No fim, como no casino e com as cartas viciadas, o resultado foi o que antecipadamente se conhecia. O vice Portas fez o derradeiro e irrevogável sermão. Uma senhora, nitidamente reformada por incapacidade, apresentou submissos cumprimentos ao praticante de canto e à sua quadrilha, alguns narizes à dimensão dos fenómenos do Entroncamento emergiram no galinheiro. Debandou-se em paz e tranquilidade, para as praias da linha e para a herdade da Comporta! A fingir de pobrezinhos como as debutantes da família Espírito Santo.

28 de julho de 2013

À espera do Celta de Vigo

À medida que a turba se adensava, adensavam-se os meus receios. Tenho ideias há muitos anos, mas nunca gostei de confusões, acagaço-me como qualquer bom patriota que tenha cu e procure cargo. Mas esta tarde, com a sensatez do descanso dominical e a força do sol rompendo por entre nuvens, quase todas brancas, aventurei-me.

O ajuntamento fez-me crer que seria este o dia e, às seis da tarde, já se deveriam contar mais peões do que castelhanos alinhados para o desastre de Aljubarrota. Seria certamente uma nova restauração, com um irrevogável vice-ministro a atirar o galego pela escotilha. Uma marcha para a reconquista de Olivença, a expulsão da troika a pontapé, o resgate do país das mãos de rapina dos políticos do quintal.



Afinal, nada disso! Como antigamente, beber vinho dá de comer a milhões de portugueses e emborcar bjecas em série faz o senhor Pires de Lima chegar a ministro. Da mesma forma que o fado e o futebol é que “inducam”, enquanto mantiverem a batuta na mão ágil do rombo ministro casto, ou cato, ou crato ou  lá o que é. Mas, afinal, só se esperava pelos vizinhos de Vigo para uma jogatana. Começou cedo e foi engrossando a romaria!

23 de julho de 2013

As tuas mãos de fogo


As tuas mãos de fogo, serra abaixo, acariciando rios de vento, como se fossem searas. A paisagem com barcos navegando à deriva pela encosta, todas as velas pandas, o vento norte. No fundo encovado dos meus olhos ainda a mesma esperança verde das colinas, a esbater-se. O meu destino abandonado sobre o silêncio tranquilo do teu corpo esbelto, cabelos em desalinho, nem lágrimas nem risos, o olhar pousado no infinito, para lá de tudo.

De onde viemos, assim, sem nos darmos as mãos, como se toda a vida fosse só este momento, aqui e agora? E nesta falta de palavras e de gestos já nos conhecemos desde sempre, chegamos de um tempo tão antigo que não cabe nem na história nem nas páginas densas de nenhum livro. Todos os dias amanhecem à mesma hora, como se nunca tivesse anoitecido, sem chuvas e sem frios, o cheiro livre dos horizontes de áfrica a percorrer-nos as veias, a indiferença dos rios correndo para o mar, o deserto pelo meio.


Mas aqui chegamos, suados da caminhada e do esforço, o futuro adiado e aquele inconfundível brilho no olhar, macio e doce. Não precisamos de palavras, se as dissermos irão apenas engrossar o caudal de vento com que o rio transborda das margens e inunda ruas e casas quando atravessa o povoado. Tão pouco gestos ou mãos dadas e dedos entrelaçados, tanto faz. Vamos seguindo o nosso olhar, até onde ele nos levar. O mar azul, a água salgada, a areia fina. O caminho comum!

20 de julho de 2013

O compromisso não sei de quê

O país não perdeu nada com o fracasso das negociações que Cavaco impôs a três dos partidos políticos. Uma maioria parlamentar corresponde a uma ditadura de quatro anos e, quanto maior for a maioria, maior será essa ditadura. Portanto de um possível acordo nada de bom se poderia esperar, na ótica do povo que, verdadeiramente, representa a maioria da população.

Mas o fracasso trouxe-nos alguma coisa de positivo. Enquanto decorreram as negociações ninguém soube de nada, os “portugueses” foram ignorados e os assuntos discutidos mantidos em segredo. Quer dizer, tudo foi feito por causa e para bem deles, sendo certo que eles foram os únicos a não saber e a não ser informados de nada. Uma tentativa de salvação à revelia...


Publicitado o fracasso, sucedem-se as declarações. Casa um dos participantes tem a sua verdade. Que apenas serve aos próprios porque, na verdade, se trata apenas de mentiras, como sempre. Amanhã virá Cavaco com a sua ladainha vespertina, cujo conteúdo se adivinha. A ética, a moral e a vergonha perderam-se por inteiro. O país está refém do oportunismo, da mentira, do roubo e dos agiotas, estes dando pela designação de mercados.

É preciso adquirir consciência coletiva da situação e repensar todo o regime. A crise é um conceito abstrato que facilmente cobre aquilo que não importa revelar. O cidadão é espoliado, remetido à pobreza explícita ou envergonhada, explorado mais do que nunca. Como consequência do salve-se quem puder a que eufemisticamente chamam “neoliberalismo”, para de facto camuflar os erros dos sucessivos governos e salvar a ganância e a insanidade da banca.

O país não se resolve com a reforma que lhe querem impor, de fora para dentro, por determinação de quem o não conhece e de quem nada sabe de coisa nenhuma. O país, que somos nós, exige urgentemente a reforma do regime. E não serão os que nos encurralaram no beco que, por artes mágicas, agora nos vão tirar dele. É preciso que o saibamos e que nos ergamos!



19 de julho de 2013

Uma campanha alegre ou um Compromisso alegre?

Há em Portugal quatro partidos: o partido histórico, o regenerador, o reformista, e o constituinte. Há ainda outros, mas anónimos, conhecidos apenas de algumas famílias. Os quatro partidos oficiais, com jornal e porta para a rua, vivem num perpétuo antagonismo, irreconciliáveis, latindo ardentemente uns contra os outros de dentro dos seus artigos de fundo. Tem-se tentado uma pacificação, uma união. Impossível! eles só possuem de comum a lama do Chiado que todos pisam e a Arcada que a todos cobre. Quais são as irritadas divergências de princípios que os separam? - Vejamos:
O partido regenerador é constitucional, monárquico, intimamente monárquico, e lembra nos seus jornais a necessidade da economia.
O partido histórico é constitucional, imensamente monárquico, e prova irrefutavelmente a urgência da economia.
O partido constituinte é constitucional, monárquico, e dá subida atenção à economia.
O partido reformista é monárquico, é constitucional, e doidinho pela economia!
Todos quatro são católicos,
Todos quatro são centralizadores,
Todos quatro têm o mesmo afecto à ordem,
Todos quatro querem o progresso, e citam a Bélgica,
Todos quatro estimam a liberdade.
Quais são então as desinteligências? - Profundas! Assim, por exemplo, a ideia de liberdade entendem-na de diversos modos.
O partido histórico diz gravemente que é necessário respeitar as Liberdades Públicas. O partido regenerador nega, nega numa divergência resoluta, provando com abundância de argumentos que o que se deve respeitar são - as Públicas Liberdades.
A conflagração é manifesta!

Na acção governamental as dissensões são perpétuas. Assim o partido histórico propõe um imposto. Porque, não há remédio, é necessário pagar a religião, o exército, a centralização, a lista civil, a diplomacia... - Propõe um imposto.
«Caminhamos para uma ruína! - exclama o Presidente do Conselho. - O défice cresce! O País está pobre! A única maneira de nos salvarmos é o imposto que temos a honra, etc...»
Mas então o partido regenerador, que está na oposição, brame de desespero, reúne o seu centro. As faces luzem de suor, os cabelos pintados destingem-se de agonia, e cada um alarga o colarinho na atitude de um homem que vê desmoronar-se a Pátria!
— Como assim! - exclamam todos - mais impostos!?
E então contra o imposto escrevem-se artigos, elaboram-se discursos, tramam-se votações! Por toda a Lisboa rodam carruagens de aluguel, levando, a 300 réis por corrida, inimigos do imposto! Prepara-se o cheque ao ministério histórico... Zás! cai o ministério histórico!
E ao outro dia, o partido regenerador, no poder, triunfante, ocupa as cadeiras de S. Bento. Esta mudança alterou tudo: os fundos desceram mais, as transacções diminuíram mais, a opinião descreu mais, a moralidade pública abateu mais - mas finalmente caiu aquele ministério desorganizador que concebera o imposto, e está tudo confiado, esperando.
Abre a sessão parlamentar. O novo ministério regenerador vai falar.
Os senhores taquígrafos aparam as suas penas velozes. O telégrafo está vibrante de impaciência, para comunicar aos governadores civis e aos coronéis a regeneração da Pátria. Os senhores correios de secretaria têm os seus corcéis selados!
Porque, enfim, o ministério regenerador vai dizer o seu programa, e todo o mundo se assoa com alegria e esperança!
— Tem a palavra o Sr. Presidente do Conselho.
— O novo presidente: «Um ministério nefasto (apoiado, apoiado! - exclama a maioria histórica da véspera) caiu perante a reprovação do País inteiro. Porque, Senhor Presidente, o País está desorganizado, é necessário restaurar o crédito. E a única maneira de nos salvarmos...»
Murmúrios. Vozes: Ouçam! ouçam!
«...É por isso que eu peço que entre já em discussão... (atenção ávida que faz palpitar debaixo dos fraques o coração da maioria...) que entre em discussão - o imposto que temos a honra, etc. (apoiado! apoiado!)»
E nessa noite reúne-se o centro histórico, ontem no ministério, hoje na oposição.
Todos estão lúgubres.
— «Meus senhores - diz o presidente, com voz cava. - O País está perdido! O ministério regenerador ainda ontem subiu ao poder, e doze horas depois já entra pelo caminho da anarquia e da opressão propondo um imposto! Empreguemos todas as nossas forças em poupar o País a esta última desgraça! - Guerra ao imposto!...»
Não, não! com divergências tão profundas é impossível a conciliação dos partidos!
[Eça de Queirós, Maio 1871]


17 de julho de 2013

Compromisso de salvação nacional

Adoro eufemismos! Sobretudo por não terem significado nenhum e me permitirem imaginar algumas associações sem nexo e divertidas. Quando se agrupam, ainda gosto mais. Compromisso de salvação nacional não quer dizer nada. Compromisso de salvação nacional dos partidos do arco da governação, ainda quer dizer menos. Compromisso de salvação nacional dos partidos do arco da governação patrocinado pelo inquilino de Belém, é o vazio absoluto. Deliro!

Compromisso, por exemplo, é o quê? A promessa feita nas campanhas eleitorais, de que nunca se aumentarão os impostos para os aumentar dia sim, dia não? De salvação de quê ou de quem, contra quê ou contra quem, que tem de ser tão secreto para que as vítimas a salvar se não apercebam da intenção e optem pelo suicídio voluntário e feliz? Nacional inclui a simpática vila de Sendim, no concelho de Miranda do Douro onde, na Gabriela, se saboreiam as mais apetecidas postas à mirandesa do nordeste transmontano? Ou inclui também a outra margem do rio Douro, a estrada para lá de Vilar Formoso e o Boulevard Charlemagne, ao redor do escritório do senhor Durão Barroso, algures em Bruxelas?


Partidos, obviamente aos bocados, mesmo dentro de si próprios. Basta atentar na disputa pelos lugares de direção, naquilo a que chamam diretas ou em congresso. E a ditadura exercida sobre a totalidade da população do sítio do pica-pau amarelo, se se ganham as eleições com maioria absoluta. Depositada nas cabecinhas ocas de uma dúzia de auto-iluminados pertencentes a uma instituição que suga o orçamento do estado e o bolso do contribuinte e que tem menos sócios e muito menos história do que o Clube de Futebol “Os Belenenses”. Cujo regresso ao escalão maior da bola nacional, já agora, séria e sinceramente, aqui se aplaude.

Do arco da governação? E porque não do arco da velha, ou da minha infância em África, com o sortilégio desta a percorrer-me de dentro para fora, até à pele e para além dela, um arco de barril amarrado a um cordel de sisal, um cabo improvisado na outra ponta, um brinquedo sem custos nem tecnologias que me fazia feliz e não desequilibrava o magro orçamento de que se dispunha lá em casa? Ou mesmo um arco das marchas dos santos populares, só balões e cores pendurados, uma romaria completa, una e indivisível, do Minho a Timor, como o país de Salazar, que também fazia eleições, à maneira dele?


Quanto mais palavras, menor é o sentido e mais vazio o conteúdo. Mais palavras a mudar para adquirir algum significado e permitir algum entendimento. E o perigo, o grande perigo, é que se perceba alguma coisa e se conclua que, afinal, o arco da governação é apenas uma pequena tropa fandanga, que se governa, endivida o país, enriquece, adora os mercados – com exceção do do Bolhão! – e recebe comendas no dia da raça. E se lhes dê um merecidíssimo pontapé no traseiro!

12 de julho de 2013

A Presidente da Assembleia da República e os carrascos

A presidente da Assembleia da República deu ontem, numa sessão única, um conjunto de dignificantes exemplos ao ocidental protetorado e ao mundo, incluindo o império alemão e a sua imperatriz. E fê-lo invocando a erudição ao citar Simone de Beauvoir e praticando a falta de princípios em que se vai afundando a instituição a que preside, sob a muleta de uma maioria que ficará na história pelos piores motivos, absolutamente irrevogáveis.

Nem ela nem os seus pares foram eleitos para ter medo de quem os elegeu. E quem os elegeu não o fez para ter medo, como tem cada vez mais, a cada minuto que passa, nem dela nem do governo espúrio que patrocina.

Nem ela nem os seus pares foram eleitos para ser coagidos por quem os elegeu. E quem os elegeu não o fez para ser vilipendiado e coagido em relação a tudo, sem audição prévia e sem palavras, como se fosse sucata não passível de reciclagem.

Nem ela nem os seus pares foram eleitos para não ser respeitados por quem os elegeu. E quem os elegeu julgou-os todos como gente de bem, mesmo quando vendidos ao eleitorado como detergentes, e não lhes deu o voto para ser sistematicamente desrespeitado e ignorado em todas as decisões que apenas visam o interesse de uma minoria que começa na banca e acaba nos supermercados.

Equivoca-se esta aposentada de luxo, desde os 42 anos e por incapacidade, quando diz aos “senhores deputados” que serão de considerar as regras de acesso às galerias de São Bento. Porque essas regras devem existir sim, mas apenas e só para os parlamentares que, soberanamente, o povo lá deve pôr e de lá deve retirar, irrevogavelmente, no sentido tradicional e à margem do conceito definido por Portas na semana passada. De resto a casa é do povo, o povo a pagou e o povo a sustenta. À casa propriamente dita, à instituição e aos deputados, ao preço que indecorosamente estes têm estabelecido, em proveito próprio. Incluindo os automóveis topo de gama e excluindo os Renault Clio.

“Não podemos deixar que os nossos carrascos nos criem maus costumes”, disse a dita cuja, invocando Simone de Beauvoir. Nem quem a elegeu pode permitir, alguma vez e de algum modo, que ali se deixe de séria e dignamente representar o povo, para instalar uma câmara de tortura que transborda do hemiciclo para os corredores e para as ruas, subjugando aldeias, vilas e cidades, como a memória de cada um de nós deve continuar a recordar que aconteceu num passado não muito distante.


Não seria preciso que Assunção Esteves fosse uma mulher digna. Bastava tão só que fosse uma Mulher, e já se teria demitido. É uma mulherzinha, com um m muito, muito pequenino...

11 de julho de 2013

O molho de bróculos

Longe vão os tempos do nunca tenho dúvidas, raramente me engano, penso logo existo ou mesmo do pi igual a 3,1416! Definitivamente é preciso que as leis laborais dispensem de vez o inquilino de Belém do cumprimento das quarenta horas semanais que querem impor aos professores, aos enfermeiros, aos pedreiros e aos deputados. Não se pode exigir tanto a partir de certa idade nem ao preço de saldo que lhe pagam de pensão.

Ontem esperava-se uma comunicação ao país, compreendendo-se que não fosse feita na língua da senhora Merkel, porque quanto mais se reforma o ensino menos por estas bandas se sabe português, com ou sem acordo ortográfico. E afinal Belém acaba a exibir-nos uma banca de frutas e hortaliças com um viçoso molho de bróculos em primeiro plano, com prazo de validade até meados do ano que vem.



Numa coisa o concessionário da banca se aproxima dos meus conceitos e, nisso, exalto-lhe os progressos. Democracia é, para mim, a imposição da minha vontade, como acontece em minha casa, tal como passou a ser a do distinto professor aposentado, socorrendo-se do biscate para melhorar a dieta diária. Com todo o respeito pelos outros, desde que não me incomodem. E assim foi ontem, com a inspiração divina, a fatalidade do destino e o avisado conselho do reposteiro. Alguns partidos, que não brincam ao arco do poder, com “representação parlamentar”, foram pessoalmente atendidos, nem se sabe o que disseram, foram chutados para canto, pela esquerda baixa, sem referência e sem palavras.


Aos outros foi imposto um prazo para em conjunto acordarem no modelo da ditadura a que se apelidou de salvação nacional e que, entre o mais, definam como querem as eleições antecipadas no início da época de banhos do próximo ano. Até lá continuará irrevogável a demissão do caixeiro viajante Portas e persistirá o amor acrisolado do patriota Coelho ao que resta da quinta a oriente do cabo da Roca. Com licença de Miguel Esteves Cardoso, o amor é fodido!

9 de julho de 2013

O circo

Portugal nunca foi nada que não fosse um circo e creio que o próprio Eça o pensaria. Tem é mudado o elenco e a qualidade dos artistas, quase sempre para pior e cobrando honorários mais elevados. Atualmente o circo quase se resume a um miserável espetáculo de palhaços, alguns sem carteira profissional que, como sempre, improvisam os números com que julgam divertir a plateia.

A semana passada o palhaço Paulo Portas, usando fato de marca e gravata de seda, apresentou um novo número surrealista, de sucesso garantido e irrevogável, idealizado pela sua consciência. À deixa veio de imediato responder o protagonista de Massamá, o único patriota que o país conheceu desde 1974, assegurando que não aplaudia o diálogo, se não demitia e que não abandonava o seu país. Esta preocupação, porque me atinge como cidadão, sensibilizou-me de forma especial e quente. Tanto, que ainda sinto calor...


Mas vá lá, as dissidências acabaram por ser ultrapassadas na taberna de um hotel qualquer, entre duas imperiais e um prato de caracóis  e o palhaço chefe lá foi à sede para contar o episódio à múmia. Logo os jornais disseram uma coisa e o seu contrário, sempre com base na opinião irrevogável de fontes mais do que seguras. Dizendo uns que a presença do palhaço Portas era exigida e outros que não era exigida, o que levou a múmia a encomendar um comunicado a um aprendiz de feiticeiro para comunicar à arena que de facto não dissera nem pensara nada. A única coisa que era de todo dispensável porque se sabe que dali não sai nem palavra nem pensamento.

Hoje a notícia é que o inquilino de todos nós, ouvidos que tenham sido todos os grupos de forcados, anunciará aos mortais a sua régia decisão. Como se de facto fosse ele , pela primeira vez, decidir alguma coisa de jeito, ainda por cima depois da auscultar a opinião de terceiros e de ponderar todas as hipóteses na missa de domingo, a que foi de maria ao lado e terço no bolso. Mas a decisão já antes tinha sido tomada pelos tutores que garantem a capacidade jurídica a quem a não tem, por insuficiência de QI. Tanto assim que já ontem houvera cumprimentos e felicitações a quem ainda não fora indigitado nem tão pouco se supunha que o viesse a ser. Coisas da alquimia e do caraças...


P.S. Já agora atentem no humor corrosivo do comunicado da foto: o palhaço Portas afinal cumpriu. Não volta a ter nada a ver com o ministério dos negócios estrangeiros, passa a ser vice primeiro-ministro. E as calças de um não têm, obviamente,  nada a ver com o cu do outro...