29 de julho de 2014

Tempo de verão

Chega-me no início da semana, pela alvorada de segunda feira, como o vento morno que sopra, lento, do norte de África. Uma sensação matinal de frescura entrando pela janela aberta, fazendo-te esvoaçar as vestes noturnas, escassas e ligeiras, com que acolheste a noite e o sono profundo e repousante a que sucumbiste, no meio do calor que o ar vai espalhando pelas margens do verão, até ao conforto irresistível do sofá. Apesar disso, não foi tão quente a noite, que te obrigasse a desnudares-te mas, mesmo assim, podem ver-se-te, ainda que a custo, as formas delicadas do corpo franzino e frágil de miúda, atravessando a transparência dos tecidos e a serenidade tranquila da madrugada, beleza translúcida mergulhada no cansaço que veste as horas que vão suavemente caindo do relógio.



Pouco depois, um ventinho fresco varrendo as encruzilhadas da manhã, o caminho para a beira mar quase leva à frente o desjejum e o pequeno almoço se perde na azáfama e no esquecimento, nem pão nem torradas com manteiga, um simples café de Viena, saciado o apetite que te falta, a hora apressada marcada para a reunião, a areia fina da praia e o mar sem ondas na impaciência da espera, a maré a vazar, a faixa aquém da rebentação a convidar ao passeio, as pegadas frescas marcadas na uniformidade lisa do percurso, transbordando de sol, pés pequenos, sapatinhos de cristal. Todos te servem, construídos à medida exacta do teu pé, nenhuma folga, nenhum aperto, até o sol à medida do que te pede a pele macia e delicada de princesa. Tudo perfeito!