20 de outubro de 2010

A saúde

A senhora aqui ao lado é a ministra da saúde de um ministério mais que defunto e mal cheiroso. Mas podia, mesmo que apenas uma vez por outra, manifestar alguma sensatez. Mesmo que isso, politicamente, prejudicasse o seu perfil para o cargo e para as boas graças do grupo Melo. Devolvendo-a às ruínas de um consultório num qualquer centro de saúde, a prescrever medicamentos genéricos para a caspa e para o enriquecimento do dono da Associação das Farmácias.

Mas não, ela tem artes que faltam ao senhor Luís de Matos, sem que este tenha, por enquanto, sido nomeado ministro. Ele pode conseguir fazer jorrar moedas de euro de narizes ranhosos, adivinhar uma carta que nem sequer constava do baralho, meter até o Cristo Rei no bolso das cuecas. Mas não consegue, como ela, uma redução de seis por cento no preço dos medicamentos e, ao mesmo tempo, fazer com que todos paguemos mais por eles. Que o mesmo é dizer que quanto mais barato é, mais caro nos fica. É preciso encaminhá-la para a farsa das novas oportunidades, a ver se com a ajuda de um computador Magalhães adquire uns rudimentos de aritmética. Porque a sua conduta é de vendedora da banha da cobra, e os seus conhecimentos da matéria também.

18 de outubro de 2010

O assalto

Sem nenhuma intenção de ferir a reputação do autêntico e histórico Zé do Telhado. Que, consta dos anais da memória, roubava aos ricos para distribuir pelos pobres. Este, Zé do Telhado Sócrates, distribui por si, pelos elementos da quadrilha, pelos assessores e compadres de clube e, especialmente, pelos ricos. Visto que são estes os seus patrões, que lhe permitem sacar à comissão, sem recibo, sem irs e sem iva.

O assalto, planificado durante dias e noites sem dormir e, mesmo assim, entregue aos chefes, incompleto e fora de prazo, mesmo depois de pessoalmente estes terem feito questão de lhe fornecer pessoalmente as instruções consideradas necessárias. O que pode representar um factor negativo na avaliação para a manutenção dos empregos do gangue. No horizonte já se perfilam novos candidatos, ansiando pela abertura do concurso. Enquanto não houver ajuste directo!

13 de outubro de 2010

A crise

A crise, sempre a incontornável crise. Sobre a qual a gente comum, que anda pelas ruas, que trabalha, que alimenta as filas do desemprego, da assistência médica, do apoio escolar, pouco ou nada sabe. E sobre a qual ninguém nada lhe diz porque ela serve, às mil maravilhas, para justificar aquilo a que a incrível classe política chama "apertar o cinto". De facto é esta gente comum que, por imposição do poder político, paga "sem bufar" os desvarios, os desmandos, os desvios e os roubos de quem surge rico, sem causa, de um momento para o outro. Ou, pelo menos, vive como rico, à custa do rendimento de inserção, do subsídio de desemprego ou do salário mínimo. Como o senhor Manuel Damásio!

Mas também a classe política, afinal, se lamenta da perda de apoios indispensáveis à subsistência, como aquele patusco deputado que queria aberta a cantina da Assembleia da República à hora de jantar, para garantir que tinha onde e como ingerir, a preço módico, a malga de sopa que lhe confortasse o estômago para o descanso da noite e para um despertar tranquilo às onze e meia do dia seguinte.

E a mesma classe, composta essencialmente por reformados de múltiplos empregos, vê-se agora na necessidade de acumular pensões de reforma, de alguns milhares de euros cada uma, para prevenir a osteoporose e acautelar a formação dos netos em escolas privadas e dispendiosas, onde a qualidade não é garantidamente melhor do que no sector público. Custa vê-los reformados e a trabalhar para aconchegar o rendimento familiar. Desde o mais alto magistrado da nação ao obscuro advogado que representa a herdeira de uma gorda fortuna, fortuitamente assassinada em terras de Vera Cruz. Pelos vistos, depois de ter transferido para contas bancárias em seu nome, alguns milhões de euros - largas centenas de milhares de contos! - que lhe possibilitem ir comendo, de vez em quando, uma alheira de Mirandela com batatas fritas e ovo estrelado!

6 de outubro de 2010

Ressaca

Se houvesse algumas dúvidas, mesmo ténues, sobre as obtusas comemorações de ontem, basta um simples parágrafo dos discursos dos indefectíveis republicanos de Boliqueime e de Vilar de Maçada para as afastar de vez e sem remissão.

Disse o primeiro ministro:
... É nestas horas que os políticos provam o seu sentido de responsabilidade e as suas convicções, a sua determinação e a sua lucidez, que os deve levar a compreender o que está em causa, sabendo que nesta emergência o que está em causa é o essencial do nosso modelo de sociedade...

Disse o presidente da república:
Os titulares de cargos públicos, como é o caso dos agentes políticos, dos altos dirigentes ou dos magistrados, têm de pautar a sua acção por critérios muito rigorosos. Antes de mais, devem conhecer as realidades, estudar os assuntos com que têm de lidar, possuir um conhecimento adequado dos problemas. Além disso, devem estar conscientes de que são referências para a sociedade. O seus actos, e até as suas palavras, tanto podem gerar confiança e ânimo como podem contribuir para o descrédito das instituições. A cultura republicana de responsabilidade exige rigor, bom senso, ponderação e contenção verbal, não se compadecendo com intervenções arrebatadas na praça pública, com palavras que são ditas sem se pensar nas consequências que têm para a dignidade das instituições.

Sócrates, falando sobre os políticos, invocou o sentido de responsabilidade, as convicções, a determinação e a lucidez. Não sabe em que país vive, não lhe ensinaram o que era responsabilidade, confunde determinação com desígnios de quadrilha e fala de lucidez como qualquer internado no hospital psiquiátrico em que o país está transformado desde sempre, principalmente de há cem anos para cá...

Cavaco fala de rigor como se integrasse a liga de futebol, convida a que se conheça a realidade quando andam todos na lua. Recomenda o estudo que o Dr Mário Soares tão dedicadamente devotava aos processos económicos e o conhecimento adequado necessário para o cálculo das comissões na compra de submarinos que não dão para a pesca da sardinha. Devem estar conscientes e ser referências, sendo simultânea e declaradamente inimputáveis. As palavras não geram confiança nem dão ânimo e já não conseguem contribuir para o descrédito das instituições, tal é o submerso nível a que as mesmas se afundaram. Bom senso, ponderação e contenção verbal, obviamente só no meio dos bananais da Madeira. Onde um alucinado clama por uma quarta república, como se já não nos tivessem bastado três...

5 de outubro de 2010

República


Uma tropa fandanga, maltrapilha de espírito, acantonada de Palaçoulo a Odeleite, afoba-se em comemorações do que os arquivos lhe dizem ser o centenário da implantação da república. Aperalta-se para os jantares à conta do orçamento e penteia-se para os discursos que pronuncia e que simultaneamente aplaude. Julga conhecer o país como ninguém, palmo a palmo, no perímetro do triângulo delimitado pelo Tavares, o Gambrinus e o Tivoli onde, numa mesa de canto, o senhor Vasco Pulido Valente faz de oposição, lendo os Lusíadas e encharcando-se em uísques de 20 anos. A Boca do Inferno já é estrangeiro, onde a república permitiu a alguns devotados patriotas construir casas com muros altos e canis espaçosos, e o Guincho é terra de ninguém que só o professor Marcelo frequenta para os seus mergulhos de inverno à procura de inspiração para as suas aparições milagreiras de fim de semana.

E pergunta, justa e justificadamente, quem sendo de Palaçoulo ou de Odeleite, não é frequentador das pensões manhosas entre Belém e São Bento, o que é que realmente se celebra e se os factos o justificam. Para já não falar nos gastos que todos abocanham, como rafeiros que correm sofrêgos, pela vinha vindimada por onde antes passou, de rapina, o nacional agente técnico de engenharia, a pisar uvas numa quinta de Sabrosa. De facto, que se vislumbre, nada de meritório ou, pelo menos, de jeito. O primeiro troféu de caça da república, implantada em 5 de Outubro de 1910, ainda o Dr Mário Soares estava desterrado em São Tomé e Príncipe a tentar a desajeitada subida a coqueiros grávidos do equador, foi o regicídio de 1908. Depois, à balbúrdia da monarquia seguiram-se as muitas e permanentes balbúrdias que por aí prosseguem, em nome do interesse nacional e do sacrifício do Zé Povinho. Sempre com a mesma merda, embora com diferentes gerações de moscas!

4 de outubro de 2010

Emprego

Segundo os auto-proclamados orgãos da comunicação social, de janeiro a setembro deste ano, faliram no país mais de 3.000 empresas.

Pensa o primeiro ministro, muito inteligentemente, que as empresas falidas poderão levar ao cumprimento das suas promessas eleitorais que antecipavam a criação de alguns 150.000 postos de trabalho, incluindo os do Rui Pedro Soares e do ministro da defesa nacional!