2 de novembro de 2023

Dia dos mortos

Celebra-se hoje o dia dos mortos, no dia seguinte ao de todos os santos. Os cemitérios enchem-se com as romagens, limpam-se sepulturas, ornamentam-se jazigos, depõem-se flores, há mais do que nunca recolhimento e saudade. Nas imediações a actividade agita-se, as flores atingem preços exorbitantes, as existências esgotam-se. O culto dos mortos é natural, é transversal a todas as religiões e a todas as culturas, a sua prática é muito antiga, seguramente milenar.

Mas, todavia, não é assim com os cemitérios e com Portugal, onde aqueles espaços de sepultura têm menos de duzentos anos. De facto o primeiro cemitério português, considerado o primeiro cemitério romântico do país, deve-se à Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, centenária e prestigiada instituição da cidade do Porto que, em 1833, pediu autorização a D. Pedro IV para criar um espaço exterior à sua igreja para enterramento dos mortos. Isto em 1833, durante o Cerco do Porto e em consequência de uma epidemia de cólera e da insuficiência de espaço no interior da igreja para poder continuar a fazê-lo aí.

O cemitério da Lapa, como é conhecido, nasceu adjacente à igreja da irmandade e é hoje um verdadeiro museu a céu aberto, havendo actualmente visitas guiadas organizadas pela instituição a que pertence. O facto deu a possibilidade de afirmação à burguesia da cidade que teve assim o ensejo de construir jazigos evidenciando ou ostentando os sinais de riqueza das respectivas famílias. O espaço foi e continua a ser de índole privada e ali repousam algumas grandes personalidades da vida local e nacional das quais se salienta, talvez, Camilo Castelo Branco que foi, por acordo com os próprios, sepultado no jazigo do seu amigo Freitas Fortuna.

O primeiro cemitério público da cidade foi o Cemitério do Prado do Repouso, inaugurado a 1 de Dezembro de 1839, com a transladação para monumento próprio dos restos mortais de Francisco de Almada e Mendonça, o mais novo dos Almadas, até essa data sepultado na igreja da Santa Casa da Misericórdia do Porto, à Rua das Flores. É hoje também um grande museu a céu aberto onde estão sepultadas numerosas personalidades da vida nacional. Um delas é o poeta Eugénio de Andrade, pseudónimo do cidadão José Fontinhas, em mausoléu da autoria do celebrado arquitecto Álvaro Siza Vieira.