11 de dezembro de 2022

Discurso de Annie Erneaux no banquete dos prémios Nobel

Vos Majestés

Vos Altesses Royales
Excellences
Chers Lauréats
Mesdames et Messieurs


J’avais 17 ans, en 1957, quand j’ai appris à la radio qu’Albert Camus avait reçu le prix Nobel de littérature à Stockholm. Je découvrais avec un mélange de fierté et de bonheur que l’auteur de L’étranger et de L’homme révolté, deux textes qui m’avaient profondément marquée, venait d’être couronné par la plus haute instance de distinction au monde. Me trouver ici, soixante-cinq ans plus tard, me laisse dans un profond sentiment d’étonnement et de gratitude. Etonnement devant le mystère que représentent un chemin de vie et une poursuite hasardeuse, solitaire, de l’écriture. Gratitude de m’avoir permis de rejoindre Camus et ces écrivains disparus ou contemporains que j’admire.


Je voudrais aussi vous remercier au nom de ceux qui ne sont pas ici, ces hommes et ces femmes qui ont parfois trouvé dans mes livres des raisons de vivre et de lutter, de se sentir plus fiers. En récompensant mon travail, vous m’obligez à encore plus d’exigence dans la recherche d’une réalité et d’une vérité partageables.


[Estocolmo, 10 de Dezembro de 2022]


10 de dezembro de 2022

Declaração universal dos direitos humanos

 

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma manifestação de intenções, sem força jurídica, foi proclamada pelas Nações Unidas a 10 de Dezembro de 1948, celebrando hoje 74 anos. Na respectiva assembleia geral foi aprovada por 48 votos a favor e 8 abstenções não contando, mesmo como simples manifestação de intenções, com o apoio unânime dos países membros.

Todos estes anos depois nem a declaração colheu a unanimidade nem a sua observância se generalizou a todos os recantos do planeta Terra. Ser hoje o documento mais traduzido do mundo, em mais de 500 línguas, não chegou para que obtivesse o respeito universal.



Vamos buscar-lhe apenas o artigo 1º.:

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.

Formulemos a propósito algumas questões linearmente simples.

·       Nascem livres as crianças que, no nosso país, não têm um lar, um agasalho, um cuidado de saúde ou uma escola?

·       São as crianças das margens periféricas iguais às suas compatriotas, nascidas na abastança de meios e de privilégios, com ou sem consciência disso?

·       Agem todos com aquele espírito de digna fraternidade que lhes garanta alimentação, saúde, educação e direitos iguais?

As respostas temo-las todas no vazio do debate político quotidiano, no nosso dia a dia, sem propósitos e sem propostas de fraternidade. Apenas alimentado pela ambição de mando e de poder e sem o mínimo arejo de simples dignidade.

 


6 de dezembro de 2022

Pânico patriótico

Portugal vive hoje, de novo, um pânico patriótico. Muito depois de ter perdido Macau, como a seu tempo bem avisara o senhor Eça de Queirós, corre-se o risco de perder a beliscada e neutra virgindade a favor da Suiça. Como se sabe, uma confederação de retalhos agrestes, em plenos Alpes, onde nem chegou Gonçalves Zarco nem sequer medra a banana. Onde, de resto, apenas funciona o relógio e se investiga o comprimido. E não se vê reformado que ofereça o peito para a salvação, seja ele apreciador de poncha, dono de lugar no mercado dos lavradores ou modelo disponível para a selfie de família.