1 de janeiro de 2018

Nada se cria, nada se perde: tudo se transforma!

Conheci pessoalmente Alice Queirós e Rogério Barbosa há menos de dois anos, numa tertúlia de poesia na Praia da Granja. Tinha escrito há poucos dias o texto abaixo, tomando como mote o título de um poema seu, que acho extraordinariamente feliz. Pouco convivemos, tão curto foi o tempo e tão longo foi o caminho. Mas desde o início que não consigo separar o casal de namorados adolescentes e cúmplices, simples, despretensiosos, humanos. De facto “não é por acaso que existe um espaço entre dois braços”. E que continuará a existir, apesar da interrupção.

Hoje, como tributo simples a esse conhecimento e a essa amizade, republico o texto. Com uma orquídea para a Alice e um abraço fraterno para o Rogério.




Não, não é por acaso que existe um espaço entre dois braços. Não, não é por acaso que os olhos verdes dos gatos se aconchegam ao conforto morno dos regaços. Não, não é por acaso que o tempo e a vida se fazem e desfazem em tantos passos e cansaços. Não, não é por acaso que as curvas da estrada e do destino nos obrigam a frequentes paragens e compassos. Não é ainda por acaso que uma palavra solta, um suspiro ou um olhar mais longo nos causam embaraços.


Não é por acaso que tantos momentos passam tão depressa que não dão tempo para que no desenho se risquem todos os traços. Os traços rigorosos e perfeitos de um desenho de Cruzeiro Seixas, o vigor artístico dos braços e o rigor milimétrico dos espaços. Não, não é por acaso. Não, não é por acaso que a madrugada nos pode tirar o sono e fazer-nos os sonhos e a lua cheia em pedaços. Não é por acaso que muitas vezes nos apertam garrotes à garganta e os sentimos com a leveza meiga que aperta os laços. Porque fica sempre a imensa longitude do espaço entre dois braços. Para acolher todo o infinito que somos de ternura e dar o aperto necessário a todos os abraços.