27 de junho de 2012

Aljubarrota II


Portugal e Espanha defrontam-se hoje de novo, como na tarde de 14 de agosto de 1385 sem que todavia o confronto ocorra de novo na campo de São Jorge. Desta vez a contenda será em campo neutro, algures na Ucrânia, que geograficamente fica assim para além de cascos de rolha, onde se encontrou o pasto mais viçoso e a palha mais apetitosa para alimento dos animais e das bestas.


A tática não divergirá muito da que foi utilizada para os lados da Batalha, mesmo que não esteja presente nenhum dos intervenientes de 1385. E o condestável, embora convidado, viu-se obrigado a recusar devido aos seus múltiplos afazeres como beato, recentemente admitido a título definitivo, depois de cumprido o número legalmente permitido de contratos a prazo. O novo condestável será Paulo Bento que se tem dedicado à preparação da batalha, sem se socorrer da ajuda inglesa, limitada à exploração do vinho do Porto e à importação anual de meia dúzia de sapatos produzidos em Felgueiras.

Paulo Bento, que se espera venha a ser beatificado mais cedo, até porque já parte benzido, afirmou no decurso de um passeio medieval de charrete na vila de Óbidos, que a tática é transparente e que se inspirou nomeadamente nas ideias peregrinas e  santificadas de Jorge Jesus. Os onze contendores serão dividos em três grupos de três elementos, cada um deles formando um quadrado com três vértices. Os dois restantes servirão para a orientação, indicando cada um deles um dos quatro pontos cardeais que, como há-de demonstrar Pedro Nunes, são três: norte e sul!

De resto a histeria é grande, a manipulação também e a falta de pão e de pás para enfornar castelhanos ainda maior porque se não sabe da padeira, em alguns lugares também conhecida por Brites de Almeida, solicitada pela troika a prestar contas de supostos desvios de farinha e de fermento. Hábitos que são tradição e que a nobreza destes domínios muito preza e respeita. E pretende democraticamente conservar!

25 de junho de 2012

São João do Porto



São João é, como se sabe, um dos santos populares e o Porto consagra o seu dia como  feriado municipal. A noite de São João é uma festa, com as ruas transbordando de gente, todos brincando, ninguém se aborrecendo. Mas ser popular é um estigma, um sinal de pé descalço, uma menos valia. São João não andou na Faculdade de Economia do Porto e não pertenceu a nenhuma vereação do Dr Rui Rio, ainda que fosse da oposição, sem pelouro atribuído. Por isso o Dr Rio o despreza. São João não foi chefe de coisa nenhuma no Banco de Portugal, nem ajudante de ministro, nem colega do Dr Cavaco num qualquer doutoramento em terras de sua majestade, nem beneficiário de uma pensão de reforma que não dá para pagar as despesas da casa da Herdade da Coelha. Por isso o Dr Cavaco o despreza.

E, desprezando-o, nenhum deles se mistura. São João é visto com um cordeiro ao colo, como um qualquer campónio, no tempo em que os havia. Os Drs Rio e Cavaco andam em carros de gama alta, que não compraram. Com motorista fardado a quem não pagam o ordenado. Quem paga uma coisa e outra é a crise, ou o endividamento ou o Zé Povinho, com manguito ou sem ele. E na noite de São João não se arriscam a levar com o cheiro do alho porro nas ventas nem a cruzarem-se com gentinha que diz palavrões e nem sempre usa desodorizante. Acolhem-se a um dos barcos que navegam o Douro, onde só cheira a mangerico e as sardinhas têm o perfume sofisticado do marisco.

Foi assim neste São João, que ambos festejaram a bordo, de fato e gravata, com o regedor de Gaia espreitando da outra margem, ansiando pelo lugar do Dr Rio, só para poder almoçar mais barato na cantina do pessoal. E o Dr Cavaco sabendo que ali, de noite, quando todos os gatos são pardos, não iria ser apupado. Mas não teve muito que esperar. Foi-o no dia seguinte, em Guimarães e em Castro d’Aire. Como parece que disse Cristiano Ronaldo, o maior embaixador da cultura portuguesa, quando a seleção sofreu o golo dos holandeses: “palhaços do caralho, foda-se!”.