28 de setembro de 2006

Sitio de Mijavelhas

Quem me conhece daqui sabe, como eu sei, que não tenho emenda. Mesmo o Dr Rio, que me não conhece, teve em tempos a subida gentileza de, sem me mencionar o nome ou o rascunho, me incluir numa vala comum de profissionais do contra. Não tenho emenda mas sou reconhecido e manifesto-lhe a minha gratidão. Frequentasse eu as sessões da preclara Assembleia Municipal e já o Dr Rio, democraticamente, me teria amordaçado a boca, vendado os olhos e acabado com a raça.

Mas passeando ontem, ao fim da tarde, pelo sítio de Mijavelhas aumentei, a minha admiração pelo Dr Rio. Não por causa das velhas nem tão pouco por causa da urina. Nem sequer por causa do urinol ou do mijadouro. Mas por causa das preocupações de preservação ambiental que ali, claramente, estão patentes. Infelizmente apenas contempladas por um Afonso Costa reduzido a pedra na ponta das ferramentas de um trolha qualquer. Ali nasceu, sem que o cidadão se desse conta disso, e sem que a autarquia disso fizesse propaganda legítima, uma espécie de reserva natural que a fotografia sofrivelmente ilustra. E que, depois de degolados e expulsos os vulgares patos de quintal, está pronta a receber os restos mortais do lince da Malcata e dos dinossauros da pedreira do Galinha.

13 de setembro de 2006

Falta de verbas

Leio, espantado e sem espanto, em título de primeira página de um dos jornais ditos de referência de Portugal e dos Algarves: Projectos de combate aos fogos no Gerês parados há quatro anos. Falta de verbas éa razão apontada por presidente da comissão parlamentar.

Assim, de facto, não há parque nacional que resista. Nem este, nem nenhum! O Verão, os fogos e até os incendiários deviam ser cooperantes. E o orçamento, obviamente, também. Sabendo uma das partes fragilizada, vem o Verão e aquece até temperaraturas que provavelmente nem o inferno regista. Os fogos, matreiros, apercebem-se da fragilidade e propagam-se. Os incendiários, com ou sem carteira profissional, fazem florescer o comércio dos isqueiros, chegam lume ao paivante, lançam a beata para o amontoado de caruma seca.

Como se isso não bastasse, a comissão parlamentar estiola. É para lamentar! Sem verbas que permitam receber atempadamente as senhas de presença, sem ajudas de custo para visitar o parque enquanto este não arde, sem dinheiro para criarmais pontos de água, a encomendar directamente a S. Pedro, misericordioso e bom! Sem cantoneiros que se disponham a reparar, digo requalificar, utilizando pá e pica, velhos e inúteis caminhos a corta-mato. Não pode haver parque ou projecto que resista. E a comissão parlamentar, se resiste, sabe Deus à custa de quantos sacrifícios, de quantos minguados caldos iludindo o estômago, de quantas férias sem o aconchego rural da Quinta do Lago!

6 de setembro de 2006

O preservativo

Em Portugal, desde longa data, com a maior das facilidades e pelas mais diversas razões se diz que caem o carmo e a trindade. O dito popular corria o risco de ser linguisticamente enriquecido, salvo seja, com a queda dos clérigos. Mas o norte é uma nação e o Dr Rui Rio, como se sabe, um predestinado autarca e um muito iluminado e incompreendido presidente de câmara. Vai daí negociou as obras de conservação da igreja dos Clérigos, incluindo a sua emblemática torre de 76 metros, a troco de cerveja, presumivelmente sem álcool. Cavalheiro por natureza, como também se sabe, enviou para a residência do senhor bispo do Porto algumas das bejecas recebidas, de forma a evitar a oposição clerical à indómita vontade do sacana do mecenas. Este, como mandam a fé e a moral, mesmo contra o concílio e contra o senhor cardeal patriarca, despachou invocando o mesmo interesse público que invocou o Dr Madail por sinal um iluminado correlegionário do Dr Rio! para devolver às honestas funções de contínuo na Lixa um eficaz ponta de lança do Gil Vicente.

Em consequência, de repente, foram a igreja e a respectiva torre envolvidas num preservativo gigante ostentando publicidade nos rebordos. A bem do interesse público, da condecoração do presidente da Câmara e da transferência do professor Jesualdo para a bouça do Dragão. O senhor bispo do Porto redimiu-se ordenando que pusessem as bejecas no frigorífico, benzendo-se três vezes e fazendo o sinal da cruz. O Dr Rio foi recebido em audiência, confessou-se sem exagerar nos detalhes e aceitou humildemente, como é seu timbre, a penitência que lhe foi decretada. Como sempre, por falta de cultura democrática e da instrução necessária, os magarefes, sapateiros, caldeireiros e apreciadores do cozido à portuguesa da Adega Vila Meã não perceberam nada desta merda. Assustados, ao que se presume, os turistas deixaram de espojar-se no chão, desfazendo-se das pulgas e carraças com que chegavam à cidade. Onde está o mal?

1 de setembro de 2006

Pró Líbano!

A débil inteligência que dirige a defesa e a política externa do país desfez-se ontem em vénias, salamaleques e explicações idiotas sobre a participação portuguesa num contingente militar que as Nações Unidas vão enviar para o Líbano. E para tontos e desprevenidos repetiu, até à exaustão, que se optara por uma companhia de engenharia para ajudar na reconstrução (do Líbano) de que, entre outras vantagens e rebuçados, resultaria uma melhor qualidade de vida para as populações indígenas. Espantoso!

Por acaso saberá a mesma débil inteligência explicar, se não se tiver entretanto finado, como é que um país como este, que existe desde o século XII, que nunca conseguiu construir-se a si próprio, habitado por uma estranha gente que nunca se soube e nunca se deixou governar, poderá ajudar na reconstrução seja de quem for, seja onde for, seja quando for? Contribuindo para o melhoramento da qualidade de vida das populações indígenas? Que, coitadas, perdidas nos escombros da desconstrução, apenas reclamam um pão, um pouco de água e um canto para se acoitarem. Quanto a nós, o grandioso Portugal das descobertas e do Eça, a construção do Chico Buarque basta!