9 de abril de 2019

Sakura, cerejeira de jardim

Uma beleza absoluta, uma alegria breve. Depois a folha, até ao outono, até à queda. Tudo são momentos, nada mais do que isso.

6 de abril de 2019

Elegia para cães e gatos


De tão egoístas que somos
Nem sequer nos damos conta
De como os animais são mais do que nossos amigos
E dizemos ter vida de cão
Quando ela é complicada
Para dizermos que o cão é o melhor amigo do homem
Quando o nosso semelhante nos trai
Com um brilho no olhar
Um sorriso largo nos lábios
E a mais descarada desfaçatez no coração
Um pequeno gato
Que brinca com uma rolha
Pendurada por um fio nas costas de uma cadeira
É um raio de sol
Um rasto de conforto que nos afaga
Que nos salta para as pernas
E se nos aninha nos joelhos quando estamos à mesa
Acabando a adormecer e a ronronar
Como se nos protegesse de tudo
Recordo-me de sempre ter havido gatos em casa de minha mãe
Gatos rurais de província
Sem os hábitos e os vícios cosmopolitas
Andando pelos campos sem medo de nada
Seguindo-me os passos por todos os caminhos
Como se fossem cachorros
Miando uma vez por outra
Como se falassem comigo
E me avisassem de um buraco no carreiro
Ficando à espera da minha resposta
E chegando-se-me às pernas
Quando me ouviam o carinho de duas palavras
Numa reacção que não vejo nos meus semelhantes
Os gatos são organizados
Tratam da sua higiene
E prezam a sua independência
Ocupam todos os cantos da casa
Adoecem e não se manifestam
Sofrem em silêncio
Como se essa fosse a sua tarefa
Podendo apenas ter um olhar mais distante e triste
Como se pedissem desculpa pelo incómodo
Quando adoecem gravemente
Têm o mesmo comportamento silencioso
E o mesmo olhar triste
De quem se despede de nós e da vida
Quando os perdemos chora-mo-los
Como familiares próximos que sempre nos foram
E deixam-nos a vida vazia
Durante tanto tempo
Que até parece que as horas se não dobram nos relógios
O último grande problema de minha mãe
Não foi a orfandade do seu filho único
- e não é com lamento que o digo é com orgulho –
Mas a separação e o destino do joli
Um cachorro rafeiro de província
De latido esganiçado e modos melosos
Que ela não sabia a quem poder confiar
Para que continuasse a ter comida conforto e carinho
E depois de o conseguir visitava-mo-lo todas as semanas
Sendo recebidos com tal alegria
Que o cachorro latia se rebolava no chão e mijava-se todo
Com o olhar tão terno
Que apenas podia ser comparado com o de minha mãe



Com a morte da dona deixámos de aparecer
E o joli definhou rapidamente
Desinteressou-se da vida
E morreu magro de tristeza
Enterraram-no no meio de um pinhal próximo
Onde ao menos sempre tem o vento por cima
Agitando as copas altas dos pinheiros
E acariciando a caruma que lhe cobre a sepultura.