13 de maio de 2007

O fim da novela, ou o princípio dela?

Pela aparência dir-se-ia que chegou ao fim a novela na Câmara Municipal de Lisboa. Como apesar das intrincadas tramas, dos dramas pungentes e dos vilões abjectos que o país, definitivamente, nunca pariu, também chegam todas as novelas do Dr Moniz. O engenheiro Carmona, que é porta-estandarte de um apelido que descende de marechais de pingalim, disse e repetiu não estar e nunca ter estado agarrado ao poder, mas muito apenas à sua independência, à sua atitude erecta e ao seu porte vertical da cabeça. Sendo que os dois últimos atributos diferenciam os humanos, como o engenheiro Carmona e o Dr Santana que o descobriu, de outros primatas que, alimentando-se do leite materno, povoam aldeias de símios em Sete Rios.

A populaça alfacinha deu razão ao engenheiro Carmona e reuniu-se espontaneamente numa manifestação de apoio em frente aos Paços do Concelho, onde se concentrou uma multidão estimada, por excesso em, pelo menos, dez pessoas. A coberto da promessa da sardinhada, da salada de tomate - cuidado com os plurais! - e do Santo António numa folgaça tradicional, num qualquer pátio próximo. O engenheiro Carmona assomou à varanda, verteu lágrimas furtivas como faz o Dr Sampaio sempre que aperta a mão a um pobre ou a um tísico e não fosse a determinação de um contínuo contratado a prazo por ser portador de cartão de independente, ter-se-ia mesmo excedido e proclamado a república, como aconteceu em 1910.

Desinteressadamente, começaram a assomar aos peitoris das janelas todos os descandidatos, militantes, simpatizantes, independentes e destruidores dos cartões de sócio, como era uso fazerem os adeptos do Futebol Clube do Porto sempre que este perdia, em casa, contra o Atlético e por diferença superior a um golo. Ninguém está interessado em preservar a baixa pombalina, assente sobre estacas de madeira velha e apodrecida como a Câmara, a vereação e a política em geral. O licenciado em engenharia, José Sócrates, empurra o Dr Costa para fora do governo, invocando a sua sabedoria sobre logaritmos decimais, bem superior à que tem sobre incêndios de Verão e sobre os concentrados de polícias e de tomate. Para além da experiência sobre transportes e das vantagens dos burros - de quatro patas, orelhas arrebitadas e incólumes aos actos de corrupção! - em relação aos automóveis, ao metro e à carris, para chegar de Loures a Lisboa.

O Dr Soares Filho afirma-se indisponível por ter filhos pequenos e outros ainda por fazer e, como se sabe, também nisto a tradição já não é o que era. Longe vão os tempos em que Ari dos Santos dizia que quem faz um filho, fá-lo por gosto. Logo ele que, ao que consta, nunca fez nenhum e afirmam as piores más línguas que nem sequer o tentava. E a D. Simone de Oliveira que o gritava com toda a força dos seus pulmões não tem por aí descendência que encha o largo fronteiro ao Quartel do Carmo, como no 25 de Abril.

As vereações e as novelas funcionam segundo as normas de Lavoisier, em que nada se cria e nada se perde, mas tudo se transforma. Uma vereação má pode dar sempre lugar a outra pior e uma novela cheia de velhas cuscas pode suceder sempre a outra onde as cuscas eram de meia idade. Há anos atrás disse-se até que um primeiro ministro de sua majestade assegurara a celebridade e a entrada directa na história ao ter conseguido o milagre químico de transformar a libra esterlina em merda, passe a grosseria e o anglicismo!