18 de outubro de 2017

106 anos, minha Mãe

Passam hoje 106 anos sobre a data do teu nascimento. Celebras hoje o teu aniversário comigo, mesmo que silenciosamente te tenhas ausentado há dez anos.


Gostaria de fazer as coisas como sempre fiz: de surpresa, sem aviso prévio. Ter combinado tudo sem te dizer nada e, a meio da manhã, aparecer-te para almoçar contigo. Levando comigo um ramo de flores e um bolo de anos, ignorando que, neste dia, desafiasses a diabetes com que conviveste largos anos. Afinal um dia não são dias e nunca deixaste de ser um bocado lambareira, apesar dela.


Assim quero deixar este marco anual, para assinalar a data. Como se dobrasse o Cabo da Boa Esperança e, com isso, o caminho do futuro se nos abrisse por diante. Porque nunca deixei de o percorrer e de acreditar que, aqui e agora, sou mais do que eu. Sou eu e a tua presença constante, e vamos juntos!

3 de outubro de 2017

De saída está Setembro

De saída está Setembro, um tardio Agosto de manhãs frias, que ainda sabe a sal e a sol, a última fronteira do solstício. Que nova ainda é a criação das estações e dos hemisférios, com o Outono por construir, suspensa a queda da folha à espera do calendário e das chuvas corridas a vento de Novembro. Até lá vai o vinho ferver no silêncio das cubas, chorando a saudade doce de ser mosto sob os pés descalços, sentindo os gumes redondos da grainha.


Entre o nevoeiro da manhã tenho as mãos cheias do teu sorriso fresco, o perfume morno do teu pescoço penetrando-me nas narinas. Que areia fina desponta na seda dos teus cabelos, que sol se levanta preguiçosamente baixo, mesmo que sempre a oriente. Que mês se desenha, fulgurante, nas chamas dos teus lábios, que rio de águas quentes nasce no sítio tranquilo dos teus olhos. Que consolo é ter a praia de Outubro pela frente, a espuma rasa das ondas banhando-me os pés descalços!