24 de setembro de 2008

Magalhães?

Ontem, para não variar, o governo não governou e os ministros saíram dos seus paços, para irem a recados do primeiro ministro. Quanto menos e pior o governo governa mais o licenciado em engenharia civil Sócrates apregoa os feitos que não fez e anuncia os que não há-de fazer. Da mesma maneira que, sem que ninguém o ouça, o Dr. Vitorino há-de preencher as segundas-feiras da D. Judite de Sousa, discutindo os erros dos árbitros na jornada de domingo e, já agora, repetir até à exaustão os incomensuráveis méritos do governo que ele e o Banco Espírito Santo solidariamente patrocinam. E, como se sabe, uma mentira sucessivamente repetida acaba por converter-se em verdade. Da mesma forma que o Dr. Santana acabou por se transformar de simples frequentador de alcovas da linha em presidente da câmara e acabou mesmo travestido na figura respeitável de plumitivo comentador desportivo e de arremedo de chefe do governo.

E a que tão importantes recados foram suas excelências os ministros, tirando das estrebarias todos os seus muitos cavalos, lançados à desfilada pelas auto-estradas da Brisa, sempre com portagens pagas à conta do orçamento e do zé povinho? Pasme-se, mas foram às escolas. Os menos avisados, aqueles que não recolhem pelas esquinas a edição do Metro ou do Destak, ou os que pura e simplesmente sofrem de iliteracia, miopia ou analfabetismo, ainda acreditaram que tinham ido para aprender. Porque, segundo o adágio, nunca é tarde para o fazer. Puro equívoco, não foram para aprender nada...

Foram para a acção de propaganda e para distribuir uma qualquer coisa parecida com um computador, uma maquineta endiabrada que fornece gratuitamente a tabuada dos nove, dá acesso aos resultados da bola e permite a construção das mais brilhantes teses de doutoramento. Além de permitir o jogo da sueca, as apostas no euromilhões e as informações sobre o céu limpo e o tempo seco quando lá fora chove a cântaros. E que tem um nome: Magalhães. E a ele associadas organizações e personalidades distintas e insuspeitas, como a americana Intel que bem espera lucrar mais uns dólares à custa da nossa ignorância, ou o venezuelano Chavez, a atirar ao chão um Magalhães, com um urro à Tarzan e um riso cariado e alarve a tresandar a petróleo.

Mas não cabe honestamente na cabeça de ninguém chamar Magalhães a um computador, mesmo que seja um simulacro que a demagogia despudoradamente promoveu. Não sei porquê, parece que o nome soa sempre a um qualquer militante comunista arrependido ou a um insignificante ajudante de ministro. Que diabo, não poderiam ter-lhe chamado Eusébio? Sempre tinha outra credibilidade e a pureza de ideais que nunca saem das estrebarias dos ministros!

9 de setembro de 2008

Um ano

A mãe partiu faz hoje um ano. Em vésperas de completar 96 anos não era propriamente uma criança. Os seus dois últimos anos de vida foram de uma agonia que não merecia, tantos os percalços, tão diverso o sofrimento. Pouco mais de uma semana antes o hospital dera-lhe alta ao fim da tarde de uma sexta-feira. Estando eu presente, fui ignorado. Porque eu, sendo leigo, sabia bem que não estava em condições que aconselhassem tal decisão.

Voltou a ser internada na noite da quinta-feira seguinte e a médica que o fez disse-me, pelo telefone, que a situação era crítica. Estive lá no dia imediato para constatar que a mãe já não era mais do que um destroço no meio de tubos, monitores, aparelhos e cheiro a hospital. Já me não viu e já me não falou. Na semana anterior já não se alimentava. O meu choro derramou-se a um canto de um corredor, enquanto houve lágrimas que o alimentasse. Não me lamentei, não falei com ninguém, faltou-me a coragem para ficar, tudo e todos me ignoraram e eu não suportaria que assim não tivesse sido. E regressei a casa.

No sábado, quando telefonicamente quis saber qual era a situação, informaram-me que abrira os olhos e que aparentemente passara a respirar um pouco melhor. Foi nessa altura que TU, para quem terei sempre essa dívida de gratidão, sem hesitação, me disseste: tens que lá ir! Na manhã seguinte ambos iniciávamos a descida das escadas do prédio quando o telemóvel me soou no bolso. Premonitória, TU o adivinhaste logo. Eu soube-o por intermédio de terceiros: tudo acabara. E regressamos a casa.

Hoje não me resta uma qualquer saudade a que se alude sempre. São as muitas e intensas saudades que crescem. É toda a muita falta que me faz. Que repouse em paz, não vou deixar de chorá-la nunca!