26 de outubro de 2013

Que se lixe a troika

Esta tarde, depois de almoço, dirigi-me para a Praça da Batalha para onde, às 15 horas, estava convocada a concentração. À hora marcada não estava ninguém e, lentamente, foram-se concentrando pessoas, mas nenhuma multidão que enchesse a praça, a rua 31 de Janeiro ou a avenida dos Aliados, onde terminou, em frente aos paços do concelho.

Isto leva-me a algumas considerações pessoais que, nesse âmbito, não serão grande contributo seja para o que for. Mas ficam, como ponto de partida para refletir sobre o assunto. As regras do jogo e o equilíbrio de forças foram inteiramente subvertidos pela globalização e pelo feroz neoliberalismo. Os recursos materiais e financeiros estão cada vez mais concentrados apenas em um dos lados.


Depois, os reformados vêm-se espoliados de uma parte importante das suas pensões de miséria, por vergonha mendigam de forma encoberta, vivem em condições desumanas, não têm sequer nenhuma perspetiva de um fim de vida digno. E não têm nenhum poder reivindicativo, são vítimas indefesas, que os governos – e este em particular – agridem em primeiro lugar, tranquilos em relação à reação que não haverá.

A população ativa está desmotivada e tem razões para isso. É paga miseravelmente, em empregos precários, vê-se cada vez mais sacrificada à sanha cega dos impostos, é-lhe aumentado o número de horas de trabalho, contribui cada vez mais para o enriquecimento dos ricos, que se queixam da diminuição dos lucros e da crise. Enquanto o salário mínimo aguarda, há 3 anos, por uma atualização de 15 euros mensais que seriam a desgraça do país e a perda definitiva da independência nacional. Enquanto uma série de ladrões aguarda por julgamento, que nunca haverá, em mansões na Quinta da Marinha.

Finalmente os jovens, em cujas mãos deveria estar o futuro, primeiro o deles e depois o do país. É, dizem aqueles que têm direito a opinião, a geração mais bem preparada de sempre. O que, parcialmente, é contestável. Muitas escolas foram criadas no setor privado que nunca foram mais do que um negócio, como uma mercearia, tendendo para a dimensão dos hipermercados. Os promotores enriqueceram, degladiaram-se, licenciaram Sócrates e Relvas. E essa geração, de um modo geral, não tem nem emprego nem perspetivas de futuro. Nem se pode arrastar pelas mesas dos cafés, como no tempo de Eça, por lhe faltar o dinheiro para a bica.

Então é preciso repensar muita coisa, ou repensar mesmo tudo. Porque o regime político em que se apoiam os governos que nos dirigem, sempre os mesmos, de forma alternada, está distorcido e esgotado. É uma ditadura do poder económico e financeiro que se aproxima progressivamente de uma escravatura moderna, patrocinada pela União Europeia. Que adia qualquer tipo de solução para a emigração ilegal enquanto os emigrantes vindos em balsas, do norte de África, morrem à vista de Lampedusa!


18 de outubro de 2013

Aniversário - 102 anos

Podias estar fisicamente entre nós, como ainda estão alguns que dobraram a marca de um século inteiro. Estaria seguramente a teu lado e estaria ainda mais feliz do que em outras ocasiões. Amanhã, porque é sábado e a facilidade é outra, sentar-se-iam à tua volta aqueles que mais amaste. Como o largo da vila, e com o respeito que devo à memória de Manuel da Fonseca, serias o centro do mundo.


Vejo-te simples, um sorriso aberto e franco, uma felicidade a espalhar-se pela sala. Pouco preocupada com as pequenas prendas de circunstância, um pouco mais com os nervos de teres de apagar tantas velas, mais ainda com a gulodice de uma fatia de bolo, fina porque há cuidados a observar, mesmo nos dias de festa.


Estejas onde estiveres, sei que estás comigo, que me observas, que me passas a tua mão ossuda pelos cabelos. Deixo que duas lágrimas de saudade me escorram pela face, me cortem o raciocínio, me dificultem a respiração. Moras comigo, para sempre!

16 de outubro de 2013

Pela insurreição geral

Até 24 de abril, e por inspiração divina, o país foi conduzido por um iluminado ditador que o manteve na miséria, lhe negou instrução e recusou cuidados de saúde e dignidade. Sempre de joelhos, terço na mão, sussurrando padres nossos e avé marias, em coro com a igreja e mais meia dúzia de famílias que, inclusivamente e como convinha, se degladiaram, se traíram e se roubaram entre si. Houve medo! Medo de falar e ser ouvido, medo de pensar e sentir o pensamento invadido e condicionado.

O 25 de abril foi uma esperança, um amor platónico, uma utopia, um relâmpago breve. Chamaram-lhe revolução dos cravos e pensou-se ser suficiente para alterar o estado de coisas e fazer do país um sítio mais justo, um sítio mais para todos, com escolas, hospitais, medicamentos e a dignidade que se deve a quem tem atitude vertical e porte ereto da cabeça. Durou pouco, não foi além da tal abstrata esperança. Porque nunca, em nenhum lado, houve revoluções que se fizessem com cravos. As revoluções custam sangue, suor e lágrimas!


O 26 de abril veio a seguir e começou por meter na gaveta a esperança nascida no dia anterior. E pouco a pouco foi lá metendo muito mais do que lá cabia. Cilindrou quem fez, com armas na mão, uma utópica revolução com flores espetadas nos canos das espingardas. Restaurou o poderio das famílias de outros tempos. Alinhou com a ditadura burocrática a que chamam europa para se apoderar dos subsídios. Só viu vantagens – e teve-as! – na criação de uma denominada moeda única que nunca existiu. Pagou para que os campos de cultivo fossem deixados ao abandono, criando terra queimada e desemprego. Teve mais olhos que barriga, estimulou o gasto do que se não ganhava e o estado, voluntarioso e ladrão, deu o exemplo. O regabofe não teve nem dia, nem horário. Um qualquer rural do interior algarvio leva por diante projetos megalómanos, gasta mais sozinho do que a casa real dos vizinhos do lado e julga-se o iluminado dos tempos que correm. Em proveito próprio, da família, dos amigos e de alguns que lhe vão afagando as cervicais curvadas.

Até se chegar onde se chegou, sob a direção de ignorantes e analfabetos que nunca trabalharam para pagarem a sopa que comem, nem sequer estudaram para escrever duas linhas sem erros, ostentem os títulos que ostentarem. E, obviamente, não passarem de feirantes que trocam por patacos o muito pouco que resta e se alcandoram ao estatuto de governantes que não inspiram nenhum respeito mas que apenas instigam o medo. Quando roubam indiscriminadamente novos e velhos, sem vergonha, sem escrúpulos e sem o mínimo de honestidade. E se sente que o novo medo é um medo muito mais objetivo do que o nascido em Santa Comba.


É preciso suster o terramoto, é preciso acautelar o futuro, é preciso recorrer à insurreição geral!

6 de outubro de 2013

A propósito de uma publicação aí em baixo

Depois de muito tempo e fortes reservas – e de mais de 2.000 amizades de que, pessoalmente, conheço poucas! – rendo-me hoje, sem reticências e publicamente, ao Facebook, ao senhor Zuckerberg e à bolsa de valores de Nova Iorque. Um amigo virtual veio a minha casa e, desinteressadamente, ofereceu-me mais e melhores coisas do que fez o Dr. Menezes até ao final da semana passada, nos folhetos com que foi atafulhando as caixas de correio dos portuenses que o mandaram às malvas.

Promete-me boa saúde e bem estar e propõe-se explicar-me o que devo fazer e como. Ao mesmo tempo que me assegura ter solução para o meu problema, antes mesmo de o conhecer, como se fosse ministro, ajudante ou bruxo. Consequências da virtualidade absoluta, está visto porque, como o governo, este amigo desconhece por inteiro o país ideal em que ainda me mantenho vivo, mais graças ao Espírito Santo do que propriamente ao ministério inteiro.


Boa saúde é coisa que não me falta, nem a mim nem aos portugueses em geral. Ministro atrás de ministro têm-nos oferecido mais e melhores cuidados, aumentando-nos as taxas moderadoras, reduzindo-nos as comparticipações nos medicamentos e deixando-nos apodrecer nas filas de espera para as operações aos joanetes e à queda do cabelo. O bem estar dos cidadãos é coisa com que o país e o ex-ministro Relvas perdem o sono e que mantêm sob rigoroso controlo. À custa do trabalho competente e bem remunerado de consultores com longo currículo, como o Dr. Catroga, e do uso de meios sofisticados como o computador Magalhães e os submarinos de estimação em que o irrevogável ministro Portas se desloca entre a Trafaria e o Cais do Sodré. Os “rankings” situam-nos entre os melhores, só ultrapassados por Rafael Nadal, e mesmo este apenas no ténis jogado com a mão esquerda.


Obrigado amigo, muito obrigado do fundo do coração, com “bypass” e tudo, mas não quero ser meu patrão. Nem passado, nem presente, nem futuro. Já fui, sou e continuarei a ser patrão de muita gente pouco recomendável, que não contratei, sempre à revelia. Nunca ninguém me perguntou quanto e para quê estava disposto a pagar, e a quem. Sempre abusivamente me foram extorquindo, e fazem-no cada vez mais, sem palavras e pela calada da noite. Se os apanho, tenho a caçadeira carregada e a jeito, deixo-lhes os chifres embolados para uma corrida à portuguesa, na praça do Campo Pequeno. Aí é que talvez venha a ter um problema e lhe peça ajuda, para me tirar do xadrez. Para poder andar por aí, sem ninguém saber de mim, como o Dr. Oliveira e Costa, daquele banco onde toda a gente ganhou dinheiro sem nunca lá ter investido nada em acções e sem se lembrar de nada!