5 de julho de 2015

Desenhar um poema no teu peito

Um sol que atravessa esta manhã de verão, o brilho fresco dos raios solares rompendo pelas frestas da janela, espalhando-se pelo soalho do quarto, beijando-te o corpo adormecido sobre a cama arrumada num desalinho morno e matinal. A noite ainda é uma sombra que resta e que se protege na profundidade serena e terna dos teus olhos, a tua respiração o ritmo suave de uma valsa inglesa a evoluir pelo dia acima, sem coreografia certa e sem nenhuma pressa, a música muito lenta.

À ponta leve dos meus dedos prendo o mais fino raio de sol que se encaminha para o teu corpo, exposto às carícias do sono a que ainda tu te entregas. É pelo teu pé desnudo, pequeno como se usasses sapatos de cristal, que tomam forma o carinho todo de que nascerá o beijo que depositarei sobre a sensualidade dos teus lábios entreabertos e as palavras com que desenharei um poema no teu peito. Um poema inteiro, só teu, com a dimensão do dia e a medida maneira do peito onde guardas um coração ardente e meigo com que te entregas à descoberta.

Um poema que desenharei letra a letra, cada palavra um caudal de ternura, sem medida, um longo rio, sublime de águas transparentes e de sentimentos intensos, Nilo e Amazonas no mesmo continente, nenhum deserto, nenhuma floresta virgem, só verde e esperança que fossem crescendo até à foz, um delta imenso, a perder de vista. Um poema que te expusesse por inteiro à magia da luz vespertina de setembro, os lábios húmidos, o olhar grávido de ternura e de desejo, o corpo num requebro de quem finalmente se sentiu desperto e feliz, as estrelas brilhando num céu limpo de nuvens, a lua cheia enchendo o horizonte.