31 de maio de 2005

Coisas do pitrol

O acto mais relevante do passado fim-de-semana foi, sem nenhuma dúvida, a final da Taça de Portugal em futebol. A malta não é, por cá, informada sobre aquilo a que pretensiosamente chamam constituição europeia e limitou-se a ignorar que, em França, se realizava um referendo que se não adivinha a que ponto poderá contribuir para a nossa felicidade. E mesmo a final da Taça não foi um manancial de surpresas como o maldito do défice. Nem a grande penalidade com que o árbitro iniciou o encontro, nem a forma como o camisola dez, do Benfica, a marcou. Nem sequer o Bentley tipo utilitário em que se desloca o Simão Sabrosa ou o facto, simpático, do Vitória de Setúbal ter contrariado favoritismos, virado o resultado e carregado o troféu para a Avenida Luísa Todi. Numa homenagem à passada geração em que, pelos idos de sessenta, militaram os negros José Maria e Jacinto João.

A única surpresa que a final da Taça de Portugal trouxe ao país do futebol foi a nomeação de Fernando Gomes para administrador da Galp. Fernando Gomes é, como se sabe, detentor de um extenso currículo em que é, graças a Deus, ex quase tudo. Além disso tem uma licenciatura em economia e supõe-se que terá feito a famigerada Contabilidade Analítica sob a orientação do malogrado professor Baganha que, para isso, o terá obrigado a saber cálculo integral. Depois sabe de petróleo desde o tempo em que este se vendia ao quartilho e se usava nos candeeiros de iluminação doméstica. Muito antes das pesquisas que Raul Solnado realizou no Beato e das que o próprio promoveu na pedreira da Trindade, no Largo do Infante ou na Praça de Carlos Alberto.

Isso mesmo, colaborante e solícito, veio o próprio esclarecer. Lembrando a sua condição de economista e revelando a sua qualidade de professor catedrático da Universidade Lusíada, coisa que o vulgar e ignorante jogador de sueca do jardim de S. Lázaro liminarmente desconhecia. Além disso soube de petróleo em Estrasburgo, visitou as pesquisas em curso no Terreiro do Paço, sabe da vantagem dos preços em Tui por força da frequência das deslocações a Vigo e à Corunha, para a visita ao tio-avô Iribarne e para a mariscada. De exclusiva confiança política são os cargos de directores gerais que, por isso mesmo, nada sabem do assunto e são o primeiro grande pedregulho nesta completa desengrenagem. Os administradores são profissionais capazes e competentes e quem os nomeia não atende aos clubes de preferência. Como neste caso, em que o Dr. Gomes, derrotado nas últimas autárquicas por um Rui Rio que ainda mantém a boca escancarada de espanto, não é um boy para um job. É apenas um job. Tout court!

24 de maio de 2005

O défice

O défice varreu a actualidade dos últimos dias com a mesma eficácia com que o senhor Emídio Rangel vendia detergentes importados de Espanha e inquilinos para o Palácio de Belém. Em boa verdade o défice é uma - porventura a única! - descoberta dos economistas e uma criação incompetente da classe política. Agora, hoje, num Conselho de Ministros extraordinário que todavia manterá as comunicações ao país à hora dos telejornais, o mesmo défice prepara-se para fazer esquecer o penalti do Simão Sabrosa, o eloquente discurso de vitória de Luís Filipe Vieira e as históricas comemorações que benfiquistas e portistas conjuntamente promoveram na noite de domingo passado, na Praça Nova das Hortas.

O défice trespassa-nos a vida como balas, duas de lado a lado. O governo, no desconchavo de um dia inesperado, prepara-se, no silêncio pornográfico a que nos tenta habituar, para no-la foder mais um bocado. Os iluminados arrolados pelo senhor Vasco Pulido Valente, acompanhados de outros de menor projecção mediática, chegam à brilhante conclusão que o nível da água, nas oclusas da barragem de Crestuma, só sobe de duas maneiras: ou fechando as torneiras de saída, ou abrindo as de entrada. E a mesma receita, com mais água e menor sabedoria, se aplica à urgente resolução do défice: ou se aumentam as receitas ou se reduzem as despesas. Aquilo que já o senhor de La Palisse sabia, mesmo ainda antes de ir à escola e acreditar que o planeta girava em torno do sol.

O poder político que tínhamos antes das últimas eleições não nos trouxe nada de bom. Mesmo a mordomia que, a título de comissão nas vendas,o senhor Rumsfeld decidiu atribuir ao senhor Paulo Portas é propriedade pessoal deste e os seus descendentes da terceira geração, se os tiver, hão-de trocá-la a patacos. Do poder que as eleições nos trouxeram nada de bom, também, se pode esperar. A não ser o espalhafato com que o senhor Jorge Coelho vai tentando impingir cobertores na feira de Espinho no decurso do Verão, enquanto se escandaliza com o atrevimento de quem contribui para o défice do ministério da saúde com o uso pouco avisado de camisas de manga curta.

Este regime democrático, servido por abutres e outras aves de rapina, não representa quem corre às urnas no engodo de melhores cuidados de saúde, mais possibilidades de emprego, mais justas pensões de reforma e melhores dias. Os eleitos atiram-se ao espólio e ao saque, como cruzados que tivessem acabado de ajudar D. Afonso Henriques a expulsar os mouros do Castelo de S. Jorge. Por vocação cristã e inspiração divina. E, para inspiração divina, já bastou ao país o senhor António Salazar. Que, como se sabe, não soube ou não quis servi-lo da melhor forma. Mas não consta que se tenha servido dele, a não ser em condenáveis relações de incesto! A mão no prato parece que não era especialidade sua, eram mais as finanças públicas!

13 de maio de 2005

África minha

Perdoe-se-me o plágio que, espero, se fique pelo título. Mas não resisto. Ainda na edição de ontem da revista Visão o fedorento Ricardo Araújo Pereira, numa das suas mais desconseguidas crónicas, reclamava para Manuel Acácio, da TSF, o prémio Nobel da Paz. E já hoje este, por obras e actos, declinava a honraria e se auto-propunha para prémio mais modesto, sem nome ou designação que me ocorra.

Na condição de moderador de um programa diário a que chamam fórum e que hoje desenterrou o tema da descolonização das colónias, velho de trinta anos. A pretexto de passarem trinta anos sobre o que apregoam como sendo a maior ponte aérea da história que terá feito regressar a este bucólico extremo ocidental da Europa alguma coisa como meio milhão de portugueses. O tema vai enchendo, para gáudio de vítimas e algozes, toda a emissão.

Antes da descolonização, 500 anos de presença portuguesa não levaram a que se percebesse nada sobre as colónias. Nunca poderiam curtos trinta anos, que não chegam para fazer de uma tília uma árvore de porte respeitável, levar a que se percebessem as condições especiais em que se processou, os dramas que encerrou e as tragédias que ainda hoje justifica. Exemplar e actual é um texto superior de Eça de Queirós incluído naquilo a que o próprio permitiu que se chamasse Uma Campanha Alegre. Cuja extensão, infelizmente, não permite que aqui transcreva palavra por palavra, até ao derradeiro ponto final. E, lamentavelmente, por erro meu ou insuficiência da rede, não consegui descobrir em linha, em nenhum sítio, A marinha e as colónias, de Julho de 1871.

Para que não subsistam dúvidas, não foi África que me pariu, mas foi África que me criou e que me deu os filhos. Essa imensa mãe de mar e sol para todos como, sublime, disse Camus. Mãe carregada de riquezas nas entranhas, originando invejas e disputas, guerras de libertação e conflitos fratricidas, humilde, simples e feliz. Ignorando stresses urbanos, vidas frenéticas, vidraças sem horizontes para além do outro lado da travessa. E convivendo com a miséria, com a fome, com a morte e com a alarve riqueza de uma classe política formada no "maquis", entornando champanhe francês como quem bebe quissângua!

Mas acredito que não merecia, como homem e como cidadão, ouvir a série de disparates que este dia me tem proporcionado. Entre fóruns para machos latinos, para fêmeas na fase da menopausa e para políticos na reserva. Estes, a começar pelo caalense Vítor Ramalho, deveriam recordar-se que em 1958 foi dirigida a António de Oliveira Salazar uma carta subscrita por Viriato da Cruz - falecido na China -, Mário Pinto de Andrade - falecido em Paris, depois de vida feita em Cabo Verde - e Lúcio Lara ,a propor que se negociasse sobre o destino e o futuro de Angola. Muita gente, durante largos anos, se sentou no café hoje e seguiu para o Tarrafal ou para outro destino no dia seguinte. Apenas por ser nacionalista!

10 de maio de 2005

Inquéritos e auditorias

Em Portugal é de uso, inútil e politicamente correcto, nomear comissões de inquérito e ameaçar com auditorias. As comissões de inquérito são a capa por detrás da qual se escondem todas as responsabilidades e das quais, por mais ilustres e qualificadas, absolutamente nenhuns resultados se esperam. E, para que não sejam defraudadas as expectativas do cidadão, é exactamente isso que se verifica: não se divulgam relatórios para que se não assuma publicamente o ridículo de não haver nem responsabilidades nem resultados. De permeio sempre os seus membros vão contando com algumas deslocações pelo país, refeições ditas de trabalho em bons restaurantes, pernoitas em hotéis de cinco estrelas e ajudas de custo para ajuda dos charutos e da mesada dos filhos. Tanto assim que, gorada a possibilidade de se ser ministro ou secretário de estado, muito licenciado em qualquer coisa se perfila na esperança de ser nomeado para uma comissão de inquérito.

Há inquéritos para tudo e para todos, inquirindo desgraças, tragédias e mesmo algumas disfunções, porventura até de natureza íntima e, se calhar, sexual. Exceptuando os licenciados em direito que, por dons sobrenaturais, estão habilitados a inquirir sobre tudo e a desempenhar todas as funções, os licenciados em medicina são peritos em literatura como Júlio Dinis, os licenciados em química poetas de rima fácil como Rómulo de Carvalho e os sociólogos afadigam-se pela participação em fóruns mundiais que protejam as espécies amazónicas. Inclua-se ainda nas excepções o caso patológico de Luís Delgado para cujas múltiplas competências e fáceis inflexões e golpes de coluna a ciência não conseguiu encontrar ainda nenhuma pecaminosa justificação.


Qualquer líder partidário que ambicione ser eleito deputado e chamado a formar governo ameaça, com ar sisudo, com auditorias às contas públicas sem saber o que diz, mesmo sabendo perfeitamente que as ameaças, como as culpas, hão-de morrer solteiras. Por estes dias o presidente Sampaio, que vai lançando os derradeiros foguetes e apanhando as últimas canas, se referiu à nacional idiotice de ter cursos superiores que nunca serviram para nada, são frequentados por menos de vinte alunos e custam ao contribuinte - como repetidamente afirma o ministro das finanças! - importantes verbas que poderiam investir-se no túnel do Marquês ou no chamado edifício transparente. Sugeriu que a propósito se realizasse uma auditoria de que pudessem extrair-se conclusões objectivas. Deformação de jurista que, creio, a sucessão de dois mandatos não conseguiu fazer esquecer. De imediato se conheceram as mais díspares reacções. Os sportinguistas, naturalmente, aplaudiram. Os benfiquistas vaiaram. Os portistas recomendaram a Pinto da Costa que se entendesse com o presidente da Liga e que, em conjunto, nomeassem o árbitro que agisse mais e falasse menos. Quanto ao Anacleto Louçã convocou uma convenção, fez coro no refrão quando foi entoada a internacional a garantiu que o poder, para não variar, há-de chegar na ponta afiada de uma auditoria!

9 de maio de 2005

Terceira idade

A D. Maria José Nogueira Pinto é provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Não consta que tenha chegado ao cargo em consequência de eleições directas promovidas entre o pessoal da instituição de que, segundo creio, nem sequer faz parte. Suspeita-se que também não tenha sido nomeada depois de ter sido candidata ao lugar em concurso público, de ter enfrentado as dificuldades de provas escritas, incluindo Português e Matemática, completado acertadamente e com sucesso esquisitos testes psicológicos e suportado a carantonha aterradora de um júri severo e rude expressamente vindo do sindicato dos lentes de Coimbra. A D. Maria José Nogueira Pinto chegou ao cargo que ocupa da mesma forma que em Portugal alguém chega a algum sítio, excluindo este e o Barnabé super star. Ou seja, pelas relações de família, conhecimentos do marido, compadrio, filiação partidária ou preferência clubista.

Apesar disso a senhora prestou nos últimos anos dois inestimáveis serviços ao país. Primeiro quando num congresso de um partido cujo nome se me varreu asseverou que Paulo Portas era adversário que não conseguiria ganhar sequer ao rato Mickey. Afirmação que, em termos de futuro, acaba de assumir a natureza premonitória de uma maldição. Tão grande que os próprios jornais noticiam que as capacidades do presidente Bush e do seu ajudante Duck Rumsfeld se esgotam, ultimamente, a condecorar bonecos animados que, na Patolândia, tenham sido ministros e comprado sucata em forma de corveta. Depois quando há dias revelou, num cochicho, que à míngua de lugares a Santa Casa alojava idosos em estabelecimentos que funcionam, normalmente, sem alvará. Como aliás e sem espanto funciona a grande maioria das coisas neste país. Que, por si, não funciona de maneira nenhuma.

Mas a afirmação teve o eco de uma bomba que pudesse arrasar, num só rebentamento, o Centro Cultural de Belém, a Casa da Música e as armas de destruição maciça que enchem os esconderijos do Iraque. As mães que conduziam os filhos pela mão estugaram o passo e entraram na primeira igreja a rezar o credo e a declamar a salve rainha. Os professores que iam a caminho das escolas voltaram para trás, vencidos na sua dupla missão de ensinar e de educar e o presidente do respectivo sindicato reclamou do ministério a trigésima reforma em cinco anos. Os assaltantes de rua fizeram duas horas de greve, enquanto os donos das carteiras cumpriam o horário, preocupados com a qualidade do futuro que a Santa Casa lhes reservava. O secretário de estado, que de nada sabe e tudo desconhece, como se exige ao currículo exemplar de um político, mandou instaurar urgentemente um inquérito. Ainda mesmo que o terceiro contínuo da hierarquia da secretaria lhe tivesse afiançado, pelas alminhas do purgatório, que o Estado, exemplarmente, fazia o mesmo.

Eu, por mim, ri-me à gargalhada com o tipo de encenação que nem Jô Soares consegue nos seus programas do gordo. Para saber o que se passa nem sequer é preciso percorrer o país, basta sair à rua. O centro das chamadas grandes cidades está em ruínas, metade da população morta e a outro metade abandonada à sua sorte em casas velhas e com pensões que lhes não dão para a compra dos medicamentos de que precisam. Os velhos entram nas farmácias não para aviar as receitas que trazem mas para perguntar quanto custa, ficando a aguardar pelo vale postal do mês seguinte. Nos meios rurais a situação agrava-se, até mesmo a missa já deixou cair a sua regularidade em muitas paróquias, à falta de vocações como se proclama do Campo de Santana. Quanto ao resto, não há médicos, nem receitas, nem farmácias. O que o álcool não conserva a pílula não cura. Os idosos do país, que não tenham a promissora idade do senhor Mira Amaral e o conforto da sua razoável pensão, estendem-se pelas enxergas à espera da morte, esperando sair para os jardins quando o verão chegar, se houver um baralho de cartas. E ainda lhes sobrarem forças para o fazerem!

5 de maio de 2005

Cortesia ao volante

Num acto a todos os títulos meritório, desmiolado e inútil assinala-se hoje o dia da cortesia ao volante. Da iniciativa de uma associação de cidadãos auto-qualquer-coisa que enaltece as vantagens do amor platónico e a eficácia contraceptiva dos métodos naturais, a começar pela abstinência.

Os condutores portugueses são acusados de muita coisa, incluindo o desrespeito pelas regras de trânsito que, na maioria dos casos, não passa de grosseira ignorância. A causa dos muitos acidentes mortais que nos mantêm à frente na Europa é inevitavelmente imputada ao excesso de velocidade. E estranho que, nos últimos dias, o presidente da República tenha afirmado que mais de metade das vítimas apresente, regra geral, excesso de álcool no sangue. Embora não estranhe que diga que os condutores não cumprem as regras, desrespeitam as leis, falam ao telemóvel e palitam os dentes enquanto engrenam uma terceira de raiva a caminho do IP5.

Se as leis são desrespeitadas deve haver uma razão: ou as leis não prestam, ou não são fiscalizadas ou os portugueses são prevaricadores compulsivos. Esta última é a qualidade que atavicamente se lhes reconhece e aquela que cada um por si mais reclama, com um esgar de desprezo e uma gargalhada alarve. Mesmo que as leis sejam fabricadas nos labirintos de S. Bento, onde se observa o recato que nos seminários apenas permitem que se saiba de jovens raparigas aquilo que dizem as bíblias à venda nas livrarias de Fátima e que a beata irmã Lúcia lavrou nas suas memórias. Quanto à fiscalização, estamos conversados: o orçamento mal dá para pagar às cabeças que fazem as leis. Seria estúpido esperar que pudesse suportar ordenados de humildes fiscais, seguramente superiores ao salário mínimo nacional. E muito menos a quem ensinasse os condutores a conduzir a a conhecer as regras e as leis que privilegiadas cabeças fizeram para eles.

Mas eu, que nem sequer habitualmente conduzo na cidade - graças a Deus! - vim esta manhã para a rua montado no meu chasso, por mera questão de solidariedade. E ninguém, garanto-vos, me há-de ouvir um impropério ou uma caralhada dirigida ao condutor da frente, imóvel no semáforo adiante, depois deste ter ficado verde há cerca de um segundo. E não chamarei mais do que filhos de uma senhora que não frequenta os chás-canasta aos cabrões que me ultrapassarem pela direita, a buzinar freneticamente e a gritar tanso!

4 de maio de 2005

E os filhos…

Ouvi esta manhã, mais sarcástico do que incrédulo, o habitual respigo que a rádio faz daquilo que os jornais elegem como notícia ou tema promotor das vendas. De memória, que não é famosa, creio ter entendido que um herege que preside aos destinos do Brasil, cujo nome não combina propriamente com as condecorações e a farda oficial - e se dúvidas houver limitem-se a aguardar que a Lili Caneças termine a sua reforma agrária, que ela já esclarece! - teria recusado o apoio de 48 milhões de dólares a conceder pelos Estados Unidos do Bush para o combate à sida que, por lá, se chama hivs em tradução literal.

A primeira impressão é que o operário metalúrgico Lula da Silva, promovido pela vontade eleitoral a presidente da república federativa e tal e coisa do Brasil manteria com o dinheiro uma relação de desprezo e simples conveniência. É que, a uma taxa de câmbio aproximada, tantos dólares são cerca de 37 milhões de euros e estes correspondem a qualquer coisa como sete milhões e meio de contos, se falarmos em moeda nacional de boa memória.

Que raio terá levado um serralheiro, de quem nem o Dr. Mota Amaral gosta, a recusar? Os Estados Unidos do Bush impunham, pura e simplesmente, que as prostitutas - a que por economia de letras nos limitamos a tratar pelo diminutivo carinhoso de putas - fossem excluídas do programa. Da mesma forma simples, racional e purificadora como Hitler quis excluir os judeus da face da terra, por evidente má formação ariana.

Ocorre-nos uma só e simples pergunta a dirigir ao tal de Bush que, inevitavelmente, a não perceberá. E acabará a responder com todas as toneladas de armas de destruição maciça que não encontrou no Iraque mas que o nosso José Barroso garante que existem pelas evidências que teve o privilégio de ver na base das Lages. E os filhos, presidente Bush? Os filhos das - carinhosamente - putas? Poderão continuar a beneficiar de todos os apoios, incluindo a isenção de impostos, o enriquecimento sem causa e a figuração nas elitistas listas da Forbes? Porra! É que se é assim, some-se-me o sarcasmo e a incredulidade.

3 de maio de 2005

Esta cidade tripeira!

As obras do túnel de Ceuta foram embargadas. Alguém, de imediato, se arrogou o desplante de falar em nome da cidade e da falta de respeito que a atitude representava. Mesmo que a ministra, acaso por sulista insensatez, fosse ela mesma, excepcionalmente, uma pessoa da cidade. A cidade, como sempre, manteve-se calada e expectante. Fez o seu papel de corno e reservou-se para o fim: a desgraça não é propriamente ser corno. Desgraça é ser o último a sabê-lo. Por não ser o último, creio eu, já há muitos anos o brasileiro Juca Chaves cantava: eu sou corno mas eu sou feliz!

A cidade é serena como o povo. Tanto que não atravancou o trânsito a caminho da rua de D. Manuel II para ver os artísticos montes de terra que um qualquer dream team plantou à porta de entrada do Palácio dos Carrancas, onde funciona o Museu de Soares dos Reis. E que, desde já, é forte candidato à próxima requalificação da Avenida dos Aliados, substituindo o granito polido por plásticos a que chamarão polímeros, fabricados na Galiza. Cobrindo o chão e erguendo-se em imaginárias árvores estilizadas. Que não etilizadas!

Pena é, de todo, que nesta trapalhada de oito anos não possam ser retroactivamente embargadas todas as sucessivas vereações que meteram a pata na poça e o nariz no subsolo, armadas em bananas de dinamite que fosse rebentando a pedra para o voto. Por dolo, negligência, indecência e má figura. Sinais dos tempos, frutos da seca! Já agora: que TAF e a Baixa do Porto me desculpem o abuso. A fotografia veio de lá!