Declaração Universal dos Direitos Humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi assinada há 77 anos. Existindo a nossa pobre raça humana há não se sabe quantos milhões de anos, o período decorrido não passa de uma fração ínfima nesse trajeto, sem qualquer expressão numérica. Mas, apesar disso, diz o sábio povo português do interior profundo e remoto: mais vale tarde do que nunca. Como também diz que vozes de burro não chegam ao céu, sem quaisquer intenções de melindrar a respeitável raça asinina ou, tão pouco, de pôr o céu ao alcance do pontapé ou do coice de qualquer um.
A declaração foi assinada no
Palácio de Chaillot em Paris, França., em 10 de Dezembro de 1948, como simples manifestação
de intenções sem qualquer força jurídica. A sua leitura enumera princípios tão básicos
que não se entende que não possam ser aceites, que se não respeitem e que,
inclusivamente, tenham levado à abstenção de uma série de subscritores. Portugal,
este nosso doce torrão natal, pioneiro a escorraçar os mouros de Lisboa e a
levar a evangelização ao redor do mundo, na ponta da espada e do cruxifixo, supõe-se
que tenha estado na primeira linha, de bic azul em punho, impaciente por pôr o
rabisco no papel. Desenganem-se, nada disso. Portugal apenas a fez publicar no
Diário da República de 9 de Março de 1978, quase trinta anos depois da sua
aprovação, bem após a morte do estado novo.
Mas a pátria terá sido
exemplar na sua aplicação e no seu respeito, pensarão vocês, caros
compatriotas, de um extremo ao outro do patriótico hemiciclo de São Bento,
respeitadores de D. Afonso Henriques, tementes a Deus e a Nossa Senhora de Fátima,
devotos de Aljubarrota e do Santo Condestável. Bem, não exageremos. Não
tenhamos pressa. Tenhamos em conta o atávico espírito de desenrascanço português.
Contemos com a atitude empreendedora do nosso zé povinho, sempre pronto para o
copo de vinho e para o manguito do queres fiado, toma. Arranjemos umas
propriedades no vasto Alentejo, aproveitemos o descanso de alguns voluntariosos
agentes da autoridade e utilizemos a necessitada força de trabalho de
imigrantes vindos lá sabe-se Deus de onde, à míngua de tudo e de comida.
Sejamos empreendedores.
Acolhamos umas centenas desses imigrantes, rotos e famintos, desalojados e ao
relento. Pela alvorada alinhemo-los no pátio como se fosse uma parada militar.
Façamos a chamada, anotemos as faltas, mobilizemos os agentes da autoridade,
vestamos-lhes a farda de capataz. Levemo-los ao trabalho de sol a sol, sem
interrupção e sem descanso, em regime forçado sob vigilância apertada. Nada demais,
os dias são curtos, o tempo também. Reserve-se-lhes uma côdea seca e dura para
o jantar. Deixemos que se empilhem para dormir, tresandando a mijo e a suor até
à madrugada. Para se alinharem na parada na alvorada seguinte.
E tenhamos sempre à mão a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Que, em versão portuguesa, está acessível aqui:
Gratuitamente!


