25 de abril de 2025

25 de Abril – 51 anos

Ainda por Abril águas mil amanheceu o dia inicial inteiro e limpo, fresco e descoberto. E os dias que se seguiram foram fartos rios que correram para o centro do mundo, desaguando na euforia e na esperança da multidão. Os cravos vermelhos floriram por todo o lado, de forma expontânea, espalhando um perfume novo e inebriante. Mas o sonho é efémero, quase sempre se esfuma pela madrugada, quando os galos cantam e se anuncia a alvorada próxima.

Rapidamente os cravos foram murchando e perdendo o cheiro. Por falta de atenção e de rega, por carência do indispensável desvelo coletivo. A esperança vacilou, uma ruga apreensiva sulcou lentamente as faces mais tisnadas pela dureza dos anos. A alegria foi-se esfumando, os preços subiram, a carestia de vida aumentou, foram-se formando nuvens escuras no horizonte, a borrasca perfilou-se como expetativa possível que se aproximava.

Os filhos foram envelhecendo em casa dos pais, por incapacidade de comprar ou de alugar uma casa. Pela falta de emprego ou pelo emprego precário e pouco. Um apregoado liberalismo foi-se instalando como uma praga, como a oitava maravilha do mundo. Concentrando cada vez mais riqueza e distribuindo-a cada vez menos, exigindo que se produza cada vez mais rapidamente. A pobreza foi-se alargando, a fome cresceu por todos os lados, os sem abrigo multiplicaram-se pelos frios portais das cidades. Sempre ignorados pelo poder, sem uma palavra nos discursos, sem uma pequena verba no orçamento. Passados 51 anos, Abril está por cumprir. É preciso que se cumpra, vai sendo tempo que se cumpra. É esse o nosso desiderato coletivo.

21 de abril de 2025

Papa Francisco: duas palavras

Nós vivemos numa época caótica. Vivemos numa sociedade intolerante, de confronto, hipócrita, falsa, extremista e violenta. Manipulada por interesses inconfessáveis, invocando o bem comum e espezinhando os direitos básicos a coberto do voto popular, das democracias, dos nacionalismos e da proximidade com as pessoas. Basta assistir ao mais elementar debate, seja ele político, desportivo, religioso ou do comezinho dia a dia do cidadão comum.

A grandeza de muito raras pessoas é conseguirem ser racionais, apelar ao senso comum, pugnar pelos mais fracos, invocar direitos naturais, dizer o que é mais fácil e mais simples de pensar, desejar o fim de guerras de milhões e pensar num prato de comida para todos. Assim foi Francsico, nem revolucionário, nem reformador, nem extraordinário, nem superior. Foi apenas um homem entre todos que se não esqueceu da sua condição. Foi ser tão igual que fez dele tão diferente. Que fez que dissesse e defendesse aquilo que são direitos inalienáveis de todo e qualquer ser humano. É por isso que ficará na história, porque a história não é mais do que a memória coletiva de todos os que habitam o planeta.