O deboche
Um gentil, ocasional e erudito comentador, seguramente do nível dos mesmos que aparecem na televisão, falam na rádio, escrevem nos jornais, alimentam blogues que traçam o destino do universo e se sentam à mesa do café do senhor Luís Delgado, honrou-me com a sua visita e a sua prosa. Pouca, rara e excelente! Fê-lo como anónimo, o que se compreende e, mais do que isso, se aceita perfeitamente. Nunca foi certamente da vontade de Afonso Henriques que se soubesse que tinha batido na mãe e o efeminado D. Sebastião teria gostado muito mais que a história o lembrasse com o valente que tivesse vencido e convertido o mouro e o turco. Num país como este, que é miseravelmente o nosso, a excelência acaba sempre a ter vergonha de si própria, como a extrema direita, e a conviver com dificuldade com a chafurdice da ribeira dos milagres.Mas honra-me sobremaneira que uma das raras excelências que apenas por fatalidade aqui viram a luz do dia, tivesse esperado de mim, injusta e injustificadamente, um elogio. Confrontou-se, para seu desconforto, com mais um sarcástico e mordaz deboche. E deixou-o expresso. Deboche tem para mim uma conotação que repugna ao próprio processo da Casa Pia, se é que o mesmo não faz já parte do arquivo onde a Universidade Independente religiosamente guarda, em alta segurança, os registos do percurso académico dos seus alunos. A minha doente e velha mãe certamente se desfaria em incontrolável pranto se soubesse que alguém, mesmo raro, excelente e único, o tivesse sugerido relativamente ao seu filho.
Na dúvida, coisa que muito raramente afecta os ignorantes, consultei o dicionário, velho e modesto, que tinha à mão. E fiquei a saber que o termo queria dizer libertinagem, estroinice e devassidão. O que, afinal, me sintoniza com o país e com a decisão suprema e desinteressada do Dr. Pina Moura renunciar à sua promissora carreira política e enveredar pelo controlo das receitas da publicidade e das audiências dos programas do Dr. Eduardo Moniz. Porque, com excepção da excelência, o país é libertino, dissoluto, devasso, crapuloso e ímpio. Mais, com excepção da excelência, ele é amigo de pândegas, doidivanas, dissipador e perdulário. E ainda, sempre com excepção da excelência, devasso!

Portugal pode ser um país pobre, atrasado e triste. Ou, eufesmiticamente, menos rico, em vias de desenvolvimento e de alegria contida e moderada. Mas deixará no futuro imediato de ser ignorante e analfabeto, por força do decreto e da demolidora capacidade política deste governo e da sua idolatrada ministra da educação. Rendo-me à evidência, bato com a mão no peito e reconheço a justiça e a lucidez de um dos meus dois leitores que, de quando em vez, me honra com a erudição da sua prosa e a lógica freudiana do seu raciocínio.
Este país nasceu por equívoco, não foi um nado-morto mas pouco faltou para isso. E acabou sendo um aborto por vontade de Afonso Henriques e por falta de legislação que impedisse a prática do acto nas clínicas de Badajoz e nas residências das parteiras adjacentes à zona do Intendente. Tanto assim que o futuro está assegurado pela integração na comatosa União Europeia, pela integração de forças militares na libertação do Iraque - ainda se não ouviu que o país participe na actual ocupação daquela terra! - e pelo sucesso indiscutível e sustentado das agências funerárias de que Durão Barroso há-de vir a ser ainda eficiente gestor. E cliente!
Parece que
O
O Tribunal de Contas é uma instituição que ninguém sabe o que faz e muito menos para o que serve. Poucos portugueses têm conhecimento de que é dirigido pelo Dr. Guilherme de Oliveira Martins e, se o virem aparecer nas televisões, acidentalmente à hora dos telejornais, pensarão mesmo que ele é governo, presidente de uma junta de freguesia, concorrente de um qualquer híbrido do "big brother" ou a última aquisição feita pelo Benfica para ganhar o campeonato de futebol. Porque os famosos de longa data, com currículo e carteira profissional, como o licenciado em engenharia civil José Sócrates, o menino-guerreiro Santana Lopes ou o "marchand" José Castelo Branco, conhecem eles bem.