29 de setembro de 2010

O regime

O regime mentiu, falhou, não presta. O primeiro ministro, cuja idoneidade a opinião pública, até hoje, não atestou, veio dizê-lo, rodeado dos seus acólitos. É preciso mudar de regime, é preciso mudar de classe política. É preciso descobrir gente honesta que se empenhe em não se governar à custa de quem mais precisa. O regime virou uma ditadura violenta, de natureza económica. Que ultrapassa a do Doutor Salazar quanto à ditadura e se fica muito aquém da honestidade e competência deste quanto à economia.

O governo não anunciou medidas. Apenas manifestou a liberalização do roubo e o seu duplo sentido. Reduzir os rendimentos das pessoas e aumentar-lhes os encargos. Por outras palavras, pô-las a ganhar menos e a pagar mais, para satisfazer a voracidade de uma estreita faixa de indigentes e oportunistas que campeiam na política e na economia, enriquecendo sem nenhum trabalho e sem nenhuma causa.

É preciso sair à rua, é preciso responsabilizar criminalmente quem, em proveito próprio, desde 1974, exerce cargos políticos e, para além do roubo, se diverte à custa do cidadão. Por uma vez, como dizia Carlos Queirós, é preciso varrer toda a porcaria dos corredores do poder. E há muita!

27 de setembro de 2010

OCDE

A OCDE veio apresentar em Lisboa a sua receita para a cura do descalabro, sempre progressivo, da economia portuguesa. Devido, desde sempre e pelo menos, à incapacidade e à incompetência das sucessivas gerações de políticos que se vangloriam de governar o país. Para se evitarem desde já quaisquer referências ao compadrio, ao tráfico de influências, à corrupção e ao roubo puro e simples.

E salienta desde logo que o governo português deve estar preparado para, com esse objectivo, aumentar ainda mais os impostos. Por uma vez, o ministro Teixeirinha congratulou-se com a sintonia da OCDE em relação aos problemas de Portugal, como se ela e o país fossem irmãos gémeos a pensar com uma só cabeça, que até poderia ser a sua.

Pode a OCDE estar descansada sobre a preparação do governo para aumentar os impostos. Perante a falta de credibilidade do primeiro ministro, cada português pode subscrever essa garantia, aufira ele o salário mínimo, tenha o vencimento congelado, seja ex-beneficiário do rendimento mínimo ou seja pensionista na miséria. Nunca o governo português esteve preparado para outra coisa, nem tanto, nem tão bem. Para isso e para aumentar a despesa, leve a OCDE a garantia disso e a palavra de honra do governo em peso. Mesmo que esta possa valer pouco, com ou sem testemunhas!

23 de setembro de 2010

O Estado

Enquanto o país continua a afundar-se, se ainda for possível afundar-se mais, os agiotas satisfazem a voracidade financeira do governo concedendo-lhe empréstimos, por favor, a taxas que emparceiram com as praticadas pelas empresas que subterraneamente exploram o inqualificável crédito pelo telefone.

Carlos Queirós parece ser o único português que trabalhava, sem se saber a riqueza que produzia e pouco se sabendo dos magros rendimentos com que o seu trabalho vinha sendo remunerado pelo incrível Madail.

De resto, a pedido urgente da oposição, o desaparecido ministro das finanças deu à costa em S. Bento, trazendo pendente do bolso do casaco uma tabuada, à laia de lencinho de alva brancura. E a palhaçada passa neste momento em directo, esperando-se que, em cumprimento da tradição, as largadas de toiros ocorram em Vila Franca de Xira na feira de Outubro.

20 de setembro de 2010

Palhaços

Neste país à beira mar plantado não basta falar em palhaços, é preciso enumerá-los, tão amplas são as possibilidades de escolha. Nisso o país é líder: tem-nos nos mais variados sectores, com a maior diversidade de habilitações, em todos os escalões etários. No activo ou na reforma, beneficiando de pensões avultadas e, regra geral, cobrando honorários que o público desconhece, por modéstia envergonhada dos beneficiários.

A federação de futebol tem nos últimos tempos sido palco das maiores e mais surrealistas palhaçadas que alguém possa imaginar. Primeiro com todas as cenas da novela, ainda incompleta, do despedimento do senhor Queirós, ele próprio um talentoso actor cujo percurso lhe tem garantido elogios, encómios e condecorações. Do pugilato ao insulto, da arrogância à ganância, do convencimento à mediocridade, nada tem faltado. Tudo regado a champanhe genuíno e pago a centenas de milhares de euros, como o prémio recebido pelo apuramento da seleção nacional para os oitavos de final do mundial deste ano. Para onde foi apurado sem ele próprio ainda saber como e depois de disputar 3 jogos, empatado 2 sem golos e goleado uma Coreia onde cada jogador é especialista em energia nuclear. E finalmente, e com orgulho, ter sido abatido por Espanha, por um golo convenientemente dito em fora de jogo. Por aquela que viria a ser a campeã, sem contestação e sem que nenhuma outra a tivesse superado.

Agora, e mais recentemente, a sequência representada pelo grotesto Madail, ao ter ido convidar o treinador Mourinho para um emprego a prazo certo e tempo parcial, sabendo-o contratualmente vinculado por um compromisso válido por alguns anos. Desde logo passando atestado de superior incompetência aos treinadores disponíveis no país e lutando, ele próprio, pela sobrevivência num cargo onde, de há muito, superou todos os conhecidos princípios de Peter, viajando em primeira classe e bebendo sumos escoceses de 20 anos. O senhor Mourinho pode ter muitos defeitos, mas não é burro e é mais arguto numa hora, a dormir, do que o senhor Madail, acordado, o dia todo. Tanto assim que foi adiantando que fazia o trabalho de borla e nem sequer queria que lhe pagassem o passe social da Carris. Mas que, é claro, tinha um patrão que lhe pagava o salário mínimo, com direito a cama, mesa e roupa lavada...

E regressou a Lisboa, enquanto aprontam o novo aeroporto de Alcochete e enfiam na cabeça o barrete verde, ao mesmo tempo que o engenheiro Sócrates conclui, num domingo à tarde, que é melhor investir no TGV para o Montijo do que ter o dinheiro a prazo no banco do detido Oliveira e Costa. Dizendo que tudo se mantinha em aberto, excepção feita ao que já estava fechado. Telefonou ao patrão do senhor Mourinho, mas apenas para lhe perguntar pela família e para saber como ia o CR7 no negócio das galdérias. E, por falar em galdérias, lembrou-se da salada de frutas e esqueceu-se do contrato a tempo parcial proposto ao senhor Mourinho. Que, ao que parece, sobra agora para o voluntarioso Paulo Bento, ao preço da uva mijona e do apelidado rendimento social de inserção...

17 de setembro de 2010

Saúde social

O governo, histérico, apregoa aos gritos a sua paixão, incurável, pelo estado social. E, para melhor qualidade de vida dos sem abrigo, sonha e anuncia comboios de alta velocidade para Madrid, que lhes permita esmolar em plena Gran Via. Tal e qual como ontem, viajando em primeira classe, foi fazer um tal Gilberto Madail que se agarra ao bote salva vidas da federação de futebol como se isso evitasse o naufrágio do Titanic e a salvação da Pátria.

A ministra da saúde segue naturalmente as apaixonadas directrizes do seu querido leader. Não basta, como se diz por aí, que seja honrada a mulher de César, é preciso também que o pareça. E a senhora ministra parece tudo, sendo coisa nenhuma ou sendo todas as coisas. Anuncia frente às câmaras de televisão, à hora dos telejornais, lutando pelos seus incríveis 2 minutos de fama, que o preço dos medicamentos descerá seis por cento. E cala-se, muito caladinha, sobre os medicamentos grátis que retira aos mais idosos e aos mais pobres e sobre as comparticipações do Estado, que igualmente reduz, obrigando-os a pagar mais. Sem aumentos e com menores pensões e menores ordenados. Socialmente!

De facto não basta a um ministro que seja trapaceiro, é preciso também que seja aldrabão! E que esteja acrisoladamente apaixonado pelo estado social. Como o irascível querido leader!

16 de setembro de 2010

Finanças


Segundo um jornal de referência o Estado português está a endividar-se ao ritmo de 2,5 milhões de euros por hora. Bem mais rápido do que, apesar de tudo, os avançados do Arsenal de Londres violaram as redes do Sporting de Braga no primeiro jogo da Liga dos Campeões. E ainda muito mais rápido do que vem crescendo o salário mínimo e sendo aumentado o ordenado dos professores e dos contínuos.

Por uma vez o país segue na vanguarda da Europa, aquela manta de 27 retalhos que, por mais que se puxe, não consegue cobrir os ombros de ninguém e muito menos a cratera que, diligentemente, o ministro das Finanças vem cavando, enquanto emprega assessores e compra automóveis que não envergonhem um aristrocata falido. Ou insolvente, para seguir a terminologia dominante desta impagável república do Jardim e das bananas.

Mas, para o sucesso nas finanças, não é preciso ser-se ministro duas vezes, como o senhor Teixeira dos Santos. Ainda na primeira metade do século passado o incontornável António Salazar o conseguiu, tendo apenas em consideração os mais básicos princípios da economia doméstica e o parecer de uma sensata governanta que, sem ganhar como assessora e sem beneficiar de grandes mordomias ou de carro de serviço, dava pelo nome de Maria de Jesus. E, que se saiba, isso não teve nada a ver com o vocação que o Botas sempre teve para o governo autoritário ou ditatorial.

9 de setembro de 2010

Três anos

Três anos, minha mãe! Com a chamada telefónica de uma manhã de domingo cravando-se-me no dorso como um aguilhão, deixando a farpa presa e a ferida sangrando de dor ao longo deste tempo, sem esmorecer. Com a saudade escorrendo-me dos olhos com a lentidão dos minutos que parecem meses, engrossando a cada momento, sem nunca tombar, contra todas as apregoadas leis da gravidade. Não há retorno para esta orfandade solitária em que vivo submerso, sem ânimo e sem esperança para reencontrar o sol da vida a um qualquer canto deste circo povoado de palhaços e de bobos.

Mas prossigo, com a tua mão muito magra e trémula presa entre as minhas. Vou resistir, vou continuar, vou voltar. Pela dor, pela saudade, pela falta que me fazes!