Começou o berreiro
Às 14 horas de ontem estava o palco montado para uma manifestação não sei de quem em frente ao governo civil do Porto, no Palácio dos Pestanas. Espectáculo era a ausência de manifestantes - ainda a conta com os rojões, decerto! -, o artístico das grades de ferro de protecção e o extenso elenco de polícias ordeiros, diligentes e bem mandados. Vi mais polícias ali, naquele momento em que até os mirones eram funcionários do governador, do que durante um mês inteiro nas ruas da baixa. Realmente a baixa não vale uma merda, a Avenida dos Aliados não é destinada à agricultura porque esta não está a dar, mas ainda acaba num mamarracho arquitectónico igual ao palácio dos correios, metade vendido à Câmara, metade cedido a turbas de ratos e outros roedores. Deus dê vida a Siza e a Moura e vocês vão ver! A única coisa que realmente importa proteger na baixa, a avaliar pelo contingente de polícia, é o senhor governador ou senhora governadora civil. Que eu, por obtusa ignorância, nunca soube para que é que servia, a não ser para ter automóvel e motorista de serviço!

Tenho dois filhos, facto que, nos dias que correm, é quase uma aventura irresponsável. Mal ou bem, vieram sem culpa que se lhes possa atribuir, nem sequer foi o preservativo a romper-se, são filhos legítimos, não foi preciso mover-me nenhum processo de paternidade para os reconhecer. São fruto de um casamento celebrado na conservatória do registo civil, muito festejado à saída com quilos e quilos de arroz carolino, confirmado posteriormente na igreja românica de Cedofeita, depois de três requerimentos ao abade, duas exposições ao bispo D. Armindo e um memorando de sete páginas ao cardeal patriarca que as não leu nem deu a ler ao mais humilde sacerdote do Campo de Santana.
O português é pobre, invejoso e canhestro. Já por mais que uma vez ouvi o ainda soba de Gondomar enaltecer as suas próprias capacidades como gestor polivalente de sucesso. Das batatas aos têxteis, dos clubes de futebol às autarquias, das ligas de futebol às dívidas ao fisco. Apenas Avelino está à sua altura e o mal que dele se diz é pura inveja, despeito de alcoólicos, desculpa de imbecis, contrição de quem não vai à missa e não ousa meter-se ao caminho em peregrinação a Fátima.
Um país ridículo, como Portugal, só pode produzir fenómenos ridículos como o Entroncamento. E os acontecimentos, bem como os corsos e as celebrações, não serão nem autênticos, nem credíveis, se não carregarem esse inconfundível ADN da ridicularia.
