Se a minha avó…
Esta manhã, os portugueses - nestas alturas superiormente designados por eleitores - ficaram a saber que se as eleições fossem realizadas hoje o candidato trepa no coqueiro podia ser eleito à primeira volta com 52% dos votos, o caçador de tesouros teria 19% e o amestrador de tartarugas 15%. Dos outros nem vale a pena falar que disso se ocupou já o senhor Vasco Pulido Valente no seu responso das sextas-feiras. Ele a quem, como se sabe, ele próprio reconhece a capacidade única de saber tudo, de nunca se enganar e de muito raramente ter algumas dúvidas. Sendo que os dois últimos atributos são vulgares na feira da Vandoma e na travessa do Possolo.
Os resultados divulgados baseiam-se em telefonemas abusivos feitos para casa das pessoas a horas impróprias, por jovens licenciados com um daqueles cursos que nunca levaram nenhum deles a conseguir emprego e a que os respectivos superiores, bem pagos e com carro às ordens - de marcas e modelos diversos, além de Jaguar - chamam estudos de opinião. Neste caso concreto, segundo dados que a legislação obriga a divulgar em leitura corrida, a 120 quilómetros por hora por causa do código da estrada, com base em 1400 pessoas que são o que valem os mais de seis milhões de eleitores. Nem mais, nem menos!
Mas se o mesmo acto eleitoral fosse realizado há 20 anos, como se recordam os que já andaram de tartaruga, o respectivo amestrador passaria à segunda volta sem saber ler nem escrever, apesar dos conhecimentos de história, das leituras de Kant e das amizades feitas nos corredores do Eliseu. E seria eleito à segunda volta, também sem saber como, à compita com um bacharel em direito, pouco dado à zoologia e à história e muito mais familiarizado com Oxford Street e com o fleumático corte anglo-saxão dos fatos que veste.
E se, por hipótese, as eleições se realizassem no auge do reinado de D. Afonso Henriques, é sabido que nenhum deles ganharia coisa nenhuma, muito menos a residência de Belém que nem projecto tinha ainda submetido à câmara que aposentou Santana Lopes. Pior do que isso, seriam simplesmente decapitados, violadas as filhas e escravizados as mulheres e os criados. Nem os Távoras, já por essa altura, teriam conseguido safar-se. Nem sequer D. Duarte Pio seria herdeiro não sei de quê e primo não sei de quem.
E se, ainda por hipótese, a minha avó - que Deus tenha no seu santo descanso depois de a ter perdoado - não tivesse morrido, seguramente que ainda estaria viva. Como a Lili Caneças, apesar dos peelings e do silicone!

Quase ao fim de uma campanha eleitoral que se arrasta, inútil e iníqua, desde o Outono, os eleitores portugueses estão em vias de perceber que o país tem um presidente da república. Alguns, mais instruídos, pensam que vai passar a ter seis, incluindo o simpático Dr Garcia Pereira que julgam conhecer de uma telenovela da televisão independente do Dr Moniz e deduzem, correcta e inevitavelmente, que serão eles a pagar-lhes o ordenado, as ajudas de custo, as viagens ao estrangeiro e as mulheres-a-dias. Outros, que frequentam as igrejas e confraternizam com os abades aos almoços de domingo, sabem que o presidente da república vai mudar - embora para o mesmo! - e os mais próximos da sacristia sabem mesmo quem será o novo, salvo seja, sem ofensa e com todo o respeito pela desprotegida terceira idade.
Acontecimento predominante do fim-de-semana não foi o Sporting ter ficado a ver Braga por um canudo a partir do Bom Jesus. Tão pouco o Benfica ter escacado toda a rica e cara marcenaria da capital do móvel. Nem sequer as meninas de 16 anos, do signo virgem, suspirando por Quaresma ao redor do estádio do Dragão desejando dele um chuto como o que derrotou o Boavista e Loureiros Futebol Clube, SA.