
A crise, sempre a incontornável crise. Sobre a qual a gente comum, que anda pelas ruas, que trabalha, que alimenta as filas do desemprego, da assistência médica, do apoio escolar, pouco ou nada sabe. E sobre a qual ninguém nada lhe diz porque ela serve, às mil maravilhas, para justificar aquilo a que a incrível classe política chama "apertar o cinto". De facto é esta gente comum que, por imposição do poder político, paga "sem bufar" os desvarios, os desmandos, os desvios e os roubos de quem surge rico, sem causa, de um momento para o outro. Ou, pelo menos, vive como rico, à custa do rendimento de inserção, do subsídio de desemprego ou do salário mínimo. Como o senhor Manuel Damásio!
Mas também a classe política, afinal, se lamenta da perda de apoios indispensáveis à subsistência, como aquele patusco deputado que queria aberta a cantina da Assembleia da República à hora de jantar, para garantir que tinha onde e como ingerir, a preço módico, a malga de sopa que lhe confortasse o estômago para o descanso da noite e para um despertar tranquilo às onze e meia do dia seguinte.
E a mesma classe, composta essencialmente por reformados de múltiplos empregos, vê-se agora na necessidade de acumular pensões de reforma, de alguns milhares de euros cada uma, para prevenir a osteoporose e acautelar a formação dos netos em escolas privadas e dispendiosas, onde a qualidade não é garantidamente melhor do que no sector público. Custa vê-los reformados e a trabalhar para aconchegar o rendimento familiar. Desde o mais alto magistrado da nação ao obscuro advogado que representa a herdeira de uma gorda fortuna, fortuitamente assassinada em terras de Vera Cruz. Pelos vistos, depois de ter transferido para contas bancárias em seu nome, alguns milhões de euros - largas centenas de milhares de contos! - que lhe possibilitem ir comendo, de vez em quando, uma alheira de Mirandela com batatas fritas e ovo estrelado!