Amanhã é pior dia
Pela primeira vez desde a sua entrada em vigor, em 1986, o IVA passa a ter em Portugal a taxa normal de 21 por cento. O aumento, de 2 pontos percentuais, é o cumprimento de uma das mais badaladas promessas do Partido Socialista durante a campanha eleitoral, garantindo que não aumentaria os impostos e que não faria o discurso da tanga. Fá-lo com a mesma intenção e no declarado propósito de combater o famigerado défice que o cidadão comum não sabe sequer o que é. Anuncia-o o governo com falinhas mansas, dizendo que são sacrifícios que pede aos portugueses para construção de um futuro melhor. Como se o Estado alguma vez tivesse pedido ou pedisse ao cidadão vulgar fosse o que fosse. O Estado, de forma prepotente e à força de cargas policiais se for preciso, nunca pediu nada. Sempre, de forma ditatorial e absoluta, se limitou a exigir. Depois sim, há os interesses corporativos que exigem. Porque não chove ou porque chove de mais. Porque faz muito calor ou porque faz muito frio. Porque o vento sopra de norte ou porque sopra de sul. O Estado, ganancioso, reclama, esbraceja, mas concede. Sempre muito, na sua óptica. Sempre pouco, na óptica das corporações.Quem não pede é o operário caído no desemprego porque uma empresa qualquer decidiu mudar-se para a Roménia, onde pagará um salário mínimo cerca de cinco vezes menor do que aquele que vigora em Portugal, o país mais atrasado da União Europeia dos quinze. Nem sequer valeria de nada que o fizesse. Por falta de dispositivos legais que acolhessem esses pedidos, por falta de ouvidos do Estado que se preocupassem com os mais pequenos e os mais fracos, como se a subsistência fosse questão de alguma importância com que devesse preocupar-se o Governo da República e o orçamento. A subsistência dos pequenos não é nada se comparada com o raio da terra, não se iguala a cem dias de nenhum executivo, fica a milhas do custo da Centro Cultural de Belém e do défice da Expo 98 e até a léguas dos vencimentos dos administradores da Caixa Geral de Depósitos e da pensão, por invalidez, do Ministro das Finanças.
Mas a partir de amanhã o Estado aumenta a margem de lucro com que autoriza a comercialização das peúgas, das cuecas, das camisas e dos barretes que ainda usam os campinos da lezíria ribatejana. Se o Estado, com falinhas mansas e boas maneiras, nos não pedisse nada, pagaríamos 1.000 escudos por umas cuecas vulgares. Assim vamos pagar 1.210. Mais 210 escudos ou seja, quase mais um quarto do respectivo valor, incluindo já o lucro do dono da loja. O Estado não é um comerciante, nem na pior acepção do termo. Mas é garantidamente um ladrão, na melhor acepção da palavra. Condição de que, aliás, ninguém de bom senso ainda ousava duvidar!

Segundo um antigo ditado popular, quem muito fala, pouco acerta. Por isso mesmo serei curto no discurso e parco nos encómios. Mas o
O Porto tem perseguido, com afinco, a qualificação como capital nacional do disparate. E o que choca é verificar que, face à intensificação dos esforços, está cada vez mais próximo do reconhecimento e do sucesso. Felizmente as cidades - mesmo a antiga, mui nobre e sempre leal e invicta! - não podem nunca confundir-se com os homens ou com as mulheres que, transitoriamente, abraçam a roda do leme e as dirigem. São apenas situações de passagem que deixam cicatrizes e que, desgraçadamente, se repetem cada vez com maior frequência e tendem para a eternização.
Antigamente Portugal era o país do Entroncamento e o Entroncamento era a terra dos fenómenos. Ali cresciam nabos maiores do que os que fazem a sopa de Gondomar, abóboras mais redondas do que a lua cheia, vacas senhoras de todo o juízo e ferroviários a bater com martelos nas rodas de ferro dos comboios. Com a globalização o país corre o risco de se transformar num Entroncamento de todo o tamanho, muito semelhante a um labirinto cuja saída se não encontra, como acontece com o défice orçamental.
À economia, como ciência, resta cada vez mais a aritmética dos números e a estranha alquimia dos políticos. E mesmo isto apenas enquanto a tabuada inteira não for definitivamente substituída por um qualquer chip programado que, com a mesma facilidade, ponha a soma de dois mais dois a dar cinco e o défice do orçamento a ser reduzido com o linear aumento da despesa pública.
Hoje, data em que se assinala o início do Verão, passei-me por completo. Há alguns anos, no Via Catarina, em pleno centro do Porto, um jovem conseguiu impingir-me um 


O regime político do país é uma ditadura alternadamente exercida por dois partidos, eventualmente com a cúmplice participação de um outro partideco mais ou menos fantoche - onde é que já vi esta expressão? - que ajude à formação daquilo a que os políticos profissionais designam por maioria estável e coerente. São 116 representantes num universo de 230 em que 226 labutam esforçadamente na defesa dos quase dez milhões que habitam no extremo mais ocidental da Europa. Mais 2 que defendem a curta meia dúzia de emigrantes que já falam francês como o Dr. Mário Soares e alemão como o Fernando Meira. Os 2 restantes representam as sedentárias e insignificantes comunidades de fora da Europa, obrigando-se a mais longas deslocações, mais frequentes viagens e mais numerosas jantaradas onde os prazeres de Baco saem ao preço exorbitante a que em Antuérpia se vendem, lapidados, os diamantes da candonga angolana.
